ITANS DE EJIOGBE
1 - Da disputa entre três caminhos, Terra, Praça e Água, pelo desejo de ser o mais importante, Ajá, que serviu de intermediador lhes disse: "Lutam por simples prazer, pois nenhum dos três é mais importante que os demais. Desta forma, é necessário que se unam e vivam em paz. Se a Água não cair sobre a Terra, esta não produzirá seus frutos e a praça perderá a sua utilidade que é a de servir como local de comercialização dos frutos da Terra. Vivam em paz, os três têm a mesma importância!"
Assim, os três caminhos fizeram as pazes e, agradecida, Terra disse ao cão: "Por mais distante que vás de tua casa, jamais te perderás, pois sempre te servirei de orientação!"
A Praça falou: "Quando sentires fome e nada tiveres para comer, vem a mim! Sempre reservarei para ti algum alimento, nem que seja um simples osso!"
Água sentenciou: "Estarei sempre disponível para matar a tua sede e mesmo que caias em meu leito, jamais perecerás afogado, pois eu mesma te ajudarei a nadar e a livrar-te do perigo!"
E assim, Terra, Água e Praça, se tornaram os maiores amigos do cão.
Este itan determina, para quem vai viajar, que se faça um ebó composto de: Dois galos, duas galinhas, terra de cemitério, terra de uma encruzilhada de três caminhos; terra da floresta, da montanha, do fundo do rio, pó de preá, pó de peixe, epô, banha de orí, efun, milho e muitas moedas.Um filho de Oxóssi, que saía em expedição de caça, consultou Ifá e lhe surgiu Ejiogbe que lhe recomendou que fizesse um ebó com todos os ovos de galinha que tivesse em sua casa, para evitar que fosse capturado por Ikú.
O homem não fez o ebó e, dias depois de internar-se na floresta, sem haver conseguido abater qualquer caça, deparou com Ikú que, disfarçado, se propôs a acompanhá-lo na caçada.
Depois de caminharem lado a lado encontraram dois ovos da ave alakasó13, que o caçador se propôs a dividir com Ikú, um para cada um.
Ikú, no entanto, disse ao homem: "Podes ficar com os dois ovos, este não é o meu alimento!"
Retornando à sua casa, o caçador cozinhou os dois ovos de alakasó e deu-os de comer a seus filhos.
Horas depois Ikú apareceu e, batendo na porta, disse: "Venho buscar a minha parte pois tenho fome e nada encontrei para comer."
O homem então respondeu: "Ai de mim! Dei os ovos de alakasó para meus filhos e agora nada tenho para oferecer-te..."
Sem sequer esperar pelo final da explicação, Ikú, imediatamente, devorou o homem e seus dois filhos.Orunmilá não tinha onde viver e, em todos os locais em que chegava, acabava sendo escorraçado.
Um dia, em companhia de Oxun, saiu em busca de um lugar onde pudesse fixar-se definitivamente.
Chegando à beira da praia avistaram uma grande baleia que tentava devorar alguns macaos14.
Agradecidos, os macaos ofereceram seus caracóis à Orunmilá para que pudessem servir-lhe de moradia.
Os filhos de Ejiogbe devem possuir dois caracóis de macao, carregados com: terra do solo de sua casa, pó de chifre, obí, orogbo, ouro, prata, pó de ekú, pó de ejá, epô, agbado15, folhas de Ejiogbe, areia do mar. Estes caracóis, depois de prontos, permanecem dentro do igbá-Orunmilá.
4 - Olofin queria abandonar a Terra e, para tal, solicitou a ajuda de Orunmilá.
Sabendo da pretensão de Olofin, Ikú, solicitamente, apresentou-se para ajudar Orunmilá em sua tarefa.
Sem poder discriminar qualquer de seus filhos, Olofin resolveu submete-los à uma prova, para saber qual dos dois, Orunmilá ou Ikú, iria ajudá-lo na viagem de volta ao Orun16 e determinou que, aquele que conseguisse passar três dias inteiros sem tomar qualquer alimento, seria seu acompanhante.
No segundo dia de teste, Orunmilá, atormentado pela fome, encontrava-se sentado à porta de sua casa quando Exú, que servia de fiscal da disputa, aproximou-se e disse: "Tens fome?" Ao que Orunmilá respondeu: "Sim, estou quase desfalecendo de tanta fome!""Por que então, não comemos alguma coisa? Também estou faminto!"
"Mas estou sendo submetido a uma prova e não posso comer até que se passem três dias." Respondeu Orunmilá.
"Não te preocupes, deixa que eu me encarrego de providenciar tudo e não advirá nenhum problema."
Exú abateu um galo e duas galinhas, temperou, cozinhou e comeu na companhia de Orunmilá. Depois, recolheu tudo o que sobrou e, sem deixar o menor vestígio, enterrou num local onde se jogava o lixo.
Pouco depois chegou Ikú que, também atormentado pela fome, foi procurar na lixeira alguma coisa que pudesse aliviar seu tormento e, encontrando os restos que Exú havia enterrado, comeu-os com avidez.
Exú, que o tinha seguido, surpreendeu-o comendo e, por este motivo, Orunmilá foi declarado vencedor.
Este itan é prenúncio de que a pessoa será surpreendida fazendo algo que não deve e isto lhe trará muitos problemas e muita vergonha.
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