quinta-feira, 7 de maio de 2020

A EKÉDI E A SUA IMPORTÂNCIA DENTRO DO CULTO ORISÁ.

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Dentre os cargos de pessoas que não entram em transe dentro do candomblé há um cargo feminino muito importante e que diz respeito diretamente ao cuidado com os orixás: A Ekedi. Também chamada de Ajoiê ou Makota nomes dados de acordo com a nação do candomblé, quer dizer "a segunda pessoa do orixá", são mulheres escolhidas para servirem aos orixás da casa.
As equedes são confirmadas em seus cargos por meio de um rito que também é de iniciação, porém mais simplificado que o rito de iniciação de quem entra em transe. Em geral as equedes, assim como os ogãs, ficam menos tempo recolhidas para a iniciação, e não necessariamente têm o cabelo todo raspado. A Ekedi e o Ogã, assim que confirmados em seus cargos, passam a integrar a alta hierarquia do terreiro. Tocar os atabaques, sacrificar os animais, fazer os despachos, que são atribuições masculinas, cuidar das roupas e ferramentas dos orixás, que são atribuições femininas, são tarefas decisivas e indispensáveis aos ritos.
A função básica de uma equede é vestir os orixás, dançar com eles, cuidar deles, zelar por suas roupas e assessórios. Elas lustram com afinco as ferramentas, lavam, engomam e passam as roupas. São especialistas na arte dos laços e dos nós; suas principais virtudes são: ordem, capricho e paciência.
Passar roupa é uma atribuição feminina no candomblé, tarefa interminável executada em grande parte pelas equedes que fazem isso, pelo menos teoricamente, melhor do que todos. É comum antes de uma festa as equedes se reunirem para dividir as muitas tarefas envolvidas em preparar os trajes dos orixás. Para que tudo esteja pronto e o mais organizado possível na hora os vestir para que entrem em cena.
Vestir o orixá é algo muito maior e profundo do que o vestir cotidiano; é um ato religioso. Significa dar-lhe uma forma, uma identidade, ligá-lo a uma cor, a um conjunto de insígnias. E tudo isso é responsabilidade das Ekedis. Nos bastidores, o vestir é um momento importante e tenso para elas, porque em última instância são elas as responsáveis pela boa apresentação do orixá em
público, pela beleza e harmonia do traje, que deve permanecer no lugar, em ordem, sem nada caindo, desamarrando. Um saiote que teime em aparecer durante a dança é uma vergonha para
a Ekedi. E não se pode esquecer que os orixás dançam, e muitas vezes executam danças muito agitadas, que põem qualquer roupa em risco.
Parte importante do treinamento de uma equede é exatamente aprender a vestir o orixá, saber que peças compõem o traje de cada um, como essa roupa é montada, o que se veste primeiro, o que se veste depois, como dar os muitos nós e laços e todos os outros artifícios que se usa para conseguir um belo efeito nas roupas em termos de laços bem abertos, panos-da-costa bem armados e ao mesmo tempo bem presos. Deve aprender,
sobretudo, que todo o belo efeito alcançado no vestiário tem que resistir aos movimentos bruscos das danças sob os olhares atentos e críticos dos que lotam o barracão. O maior pesadelo de uma equede é que a roupa do orixá caia, desamarre, despenque,
ou simplesmente não fique bonita para a festa. Vestir o orixá é uma tarefa difícil também porque em geral as os trajes têm muitas peças, muitos detalhes, há a preocupação constante que as roupas fiquem bem presas e para isso frequentemente lança-se mão do uso de alfinetes e de pontos com linha e agulha. Tudo deve ser feito sem ferir o filho-de-santo, para que depois que o orixá o deixe ele não esteja machucado.
Além desse "trabalho dos bastidores", cabe às Ekedi dançar com os orixás, secarlhes a fronte, servir-lhes água... enfim, permanecer sempre junto deles e estar muito atentas às necessidades dos orixás durante a apresentação. A Ekedi se preocupa também com o que ocorre depois que os orixás são recolhidos aos roncós, porque uma atribuição muito importante da Ekedi é justamente a de mandar o orixá de volta para o Orum e trazer o filho de santo à consciência. Elas são sacerdotisas do culto presentes em todos os ritos importantes, até porque nunca se sabe quando um orixá pode aparecer e elas são as principais auxiliares deles; são preferencialmente elas que ouvem o que eventualmente eles têm a dizer e ficam encarregadas de transmitirem adiante seus desígnios e mensagens.
Em momentos de ritos internos como também na festa pública, as Ekedis sempre portam seus adjás, as sinetas rituais. Na festa pública o som do adjá tem a função de guiar, de conduzir o orixá durante a dança. O som do adjá é "a música que fala aos deuses, para que eles nos ouçam e atendam nossos pedidos". Tocar adjá
é algo muito importante que só deve ser feito pelas Ekedis, ou pessoas da alta hierarquia do terreiro. Na obrigação de sete anos um fiel que entre em transe receberá também um adjá e o
tocará em público como mais um sinal de sua maioridade ritual.
Há uma disputa de poder inerente ao trabalho das Ekedis, principalmente no que diz respeito aos orixás do pai ou mãe-de-santo, dos quais sempre se quer estar perto, seja cuidando das roupas e ferramentas, seja dançando com eles na festa, ou mesmo atendendo seus desejos e transmitindo suas mensagens ao grupo. Em terreiros grandes e organizados, há muitas Ekedis confirmadas. A regra é que cada orixá tenha a sua Ekedi, mas nem sempre isso é possível. Em geral os orixás dos babás e ialorixás têm mais de uma Ekedi e a ordem de importância dessas obedece ao princípio do tempo de iniciação: aquelas que são confirmadas por último dificilmente têm acesso aos orixás dos sumos sacerdotes, porque quem ocupa o espaço é quem chegou primeiro. Isso é motivo de rusgas e de muito ciúme entre as Ekedis.
O ciúme, a disputa e o falatório são, aliás, coisas que permeiam cotidianamente as relações no candomblé, independentemente de cargo, função ou antigüidade. Mas entre as Ekedis também vale a
idéia de que "antiguidade é posto", e as mais velhas no santo são ou devem ser as mais respeitadas. A despeito de ocuparem esse papel relevante, as Ekedis usam roupas mais simples, o
que não quer dizer que não sejam ricas e muito elaboradas. Não costumam usar o traje de baiana, até mesmo pela questão prática de que seria difícil vestir os orixás nos quartos apertados usando roupa armada que ocupa espaço e dificulta os movimentos. Elas costumam usar cafetãs, saias retas e batas ou mesmo roupas parecidas com vestidos retos, tudo muito simples se comparado ao traje de baiana.
As Ekedis são a ponta do processo de trazer para o palco do barracão os deuses que encantam os homens com sua beleza.

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