quarta-feira, 27 de maio de 2020

Candomblé

A imagem pode conter: pássaro




O candomblé "do mal"
Vem da boca de quem acha que
Bicho e religião é problema.
Dizem que é a primitividade da cena
Mas o peru e o chester são a prova
Dos natais da família margarina,
Clássico: bebe e ri em volta da carnificina
Enquanto ainda tem corpo esfriando no chão.
Tem muito leitão à pururuca
Que grunhiu mais do que você escuta
Saindo de dentro do forno e do fogão,
Ou deitado na escadaria do morro
Esperando desamarrarem suas mãos.
Mas com esses
os trending topics não se importam.

Né?

O bicho nunca foi o problema
Se os abatedouros são cheios de penas
Que pesam o triplo onde nem cabe um terço
Mas se tivesse terço seria bonito,
E na Páscoa teria leite pro chocolate
Bacalhau pro socialite
E pro pobre peixe frito,
Na maioria das vezes, nem isso.

Candomblé "do mal",
Que bem à beça alimenta,
Divide o frango, o cabrito,
A uma família inteira sustenta
depois de um dia de função.
Talvez o que incomode
É o bicho ser bem tratado
Louvado, imantado, sacralizado
TOTALMENTE APROVEITADO.
Nossos Deuses comem conosco
Quem se atreve a interromper
Os milênios dessa comunhão?
Tem muito mais reza no meu obé,
Que corta
Do que em língua que reza
Enquanto o oposto faz a mão.

O bicho nunca foi problema,
Apenas a galinha da macumba é o que incomoda,
Mas isso o fofocalizando não mostra.
Yemanjá já ganhou cabelo liso,
Pele branca, cara de nossa senhora,
O que falta pra macumba vegana virar moda?
O bicho não é o problema,
O problema é religião em que Deus tem a cor
De quem já levou chibatada nas costas.
O problema é ser reza, língua
De ancestralidade preta.
Sem espaço pra medo em troca de amor
Orixá nunca foi só "força da natureza"

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