sábado, 24 de agosto de 2019

ÒRÀNMÍYÀN

A imagem pode conter: 1 pessoa



“Òrànmíyàn (Oranian) foi o filho mais novo de Odùduà e tornou­se o
mais poderoso de todos eles; aquele cuja fama era a maior em toda a
nação ioruba. Tornou­se famoso como caçador desde a juventude e, em
seguida, pelas grandes, numerosas e proveitosas conquistas que
realizou.”* Foi o fundador do reino de Oyó. Uma de suas mulheres,
Torosí (Torosi), filha de Elémpe, o rei da nação Tapa (ou Nupê), foi a
mãe de Xangô, que, mais tarde, subiu ao trono de Oyó. Oranian instalou
um outro filho seu, Eweka, como rei em Benim, tornando­se ele o
próprio Óòni de Ifé.
Oranian foi concebido em condições muito singulares, que, sem dúvida,
espantariam os geneticistas modernos. Uma lenda relata como Ogum,
durante uma de suas expedições guereiras, conquistou a cidade de
Ogotún, saqueou­a e trouxe um espólio importante. Uma prisioneira de
rara beleza chamada Lakanjê agradou­lhe tanto que ele não respeitou
sua virtude. Mais tarde , quando Odùduà, pai de Ogum, a viu, ficou
perturbado, desejou­a por sua vez e fez dela uma de suas mulheres.
Ogum , amedrontado, não ousou revelar a seu pai o que se passara
entre ele e a bela prisioneira. Nove meses mais tarde, Oranian nascia.
Seu corpo era verticalmente dividido em duas cores. Era preto de um
lado, pois Ogum tinha pele escura, e pardo do outro, como Odùduà, que
tinha a pele muito clara.
Essa característica de Oranian é representada todos os anos em Ifé, por
ocasião da festa do Olojó, quando o corpo dos servidores do Óòni é
pintado de preto e branco. Eles acompanham Óòni de seu palácio até
Òkè Mògún, a colina onde se ergue um molito consagrado a Ogum. Essa
grande pedra é cercada de màrìwò òpè, franjas de palmeiras desfiadas,
e, nesse dia, os sacrifícios de cão e galo são aí pendurados. Óòni chega
vestido suntuosamente, tendo na cabeça a coroa de Odùduà. É uma das
raras ocasiões, talvez mesmo a única do ano, em que ele , a usa
publicamente fora do palácio. Chegando diante da pedra de Ogum, ele
cruza por um instante sua espada com Osògún, chefe do culto de Ogum
em Ifé, em sinal de aliança, apesar do desprazer experimentado por
Odùduà quando descobriu que não era o único pai de Oranian.
Oranian, como já dissemos, foi o fundador da dinastia dos reis de Oyó. O
mito da criação do mundo tal como é contado em Oyó atribui­lhe esse
ato e não a Odùduà. Estes dois personagens são fundadores das
respectivas linhagens reais de Oyó e de Ifé, o que bem demonstra que o
mito da criação do mundo é, de um lado e outro, o reflexo da lenda
histórica da origem das dinastias que dominam nesses reinos. A
supremacia estabelecida por Oranian sobre seus irmãos nos é narrada
em um lenda Recolhida no século passado em Oyó**:
“No começo, a terra não existia...No alto era o céu, embaixo era a água
e nenhum ser animava nem o céu nem a água. Ora, o Todo­Poderoso
Olodumaré, o senhor e o pai de todas as coisas...criou, inicialmente, sete
príncipes coroados... Em seguida... sete sacos nos quais havia búzios,
pérolas, tecidos e outras riquezas. Criou uma galinha e vinte e uma
barras de ferro. Criou, ainda, dentro de um pano preto, um pacote volumoso cujo conteúdo era desconhecido. E, finalmente, uma corrente
de ferro muito comprida, na qual prendeu os tesouros e os sete
príncipes. Depois, deixou cair tudo do alto do céu...No limite só havia
água...Olodumaré, do alto de sua divina, jogou uma semente que caiu na
água. Logo, uma enorme palmeira cresceu até os príncipes, oferecendolhes
um abrigo grande e seguro, entre suas palmas. Os príncipes se
refugiaram ali e se instalaram com suas bagagens. Eram todos príncipes
coroados e, conseqüentemente, todos queriam comandar. Resolveram
separar­se. Os nomes desses sete príncipes eram: Olówu, que se tornou
rei de Egbá; Onisabe, que se tornou rei de Savé; Orangun, que reinou em
Ila; Óòni, que foi soberano de Ifé; Ajerô, que se tornou rei de Ijerô;
Alákétu, que reinou em Kêto; e o último criado, o mais jovem,
Òrànmíyàn, que se tornou rei de Oyó. Antes de se separem para
seguirem os seus destinos, os sete príncipes decidiram repartir entre
eles a soma dos tesouros e das provisões que o Todo­Poderoso lhes
havia dado. Os seis mais velhos pegaram os búzios, as pérolas, os
tecidos e tudo o que julgaram preciosos ou bom para comer. Deixaram
para o mais moço o pacote de pano preto, as vinte e uma barras de ferro
e a galinha...Os seis príncipes partiram ‘a descoberta’ nas folhas de
palmeira. Quando Oranian ficou sozinho, desejou ver o que continha o
pacote envolto no pano preto. Abriu­o e viu uma porção de substância
preta que ele desconhecia...sacudiu então o pano e a substância preta
caiu na água e não desapareceu. Formou um montículo. A galinha voou
para pousar em cima. Ali chegando, ela pôs­se a ciscar essa matéria
preta, que se espalhou para longe. E o montículo se ampliou e ocupou o
lugar da água. Eis aí como nasceu a terra. Oranian apressou­se em
descer para o domínio, assim formado pela substância negra, e tomou
posse da terra. Por sua vez, os ouros seis príncipes desceram da
palmeira. Quiseram tomar a terra de Oranian, como já lhe haviam
tomado, na palmeira, sua parte dos búzios, das pérolas, dos tecidos e
dos alimentos...Mas Oranian tinha armas; suas vinte e uma barras de
ferro haviam se transformado em lanças, dardos, flechas e machados.
Com a mão direita, ele brandia uma longa espada, e lhes dizia: ‘Esta
terra é só minha. Lá em cima, quando me roubaram, vocês me deixaram
apenas esta terra e este ferro. A terra cresceu e o ferro também; com
ele defenderei a minha terra! Vou matar todos vocês’. Os seis príncipes
pediram clemência, rastejaram aos pés de Oranian, suplicantes.
Pediram­lhe que lhes cedesse uma parte de sua terra para que
pudessem viver, e continuar príncipes... Oranian poupo­lhes a vida e
deu­lhes uma parte da terra. Exigiu apenas uma condição: esses
príncipes e seus descendentes; deveriam, todo ano, vir prestar­lhe
homenagem e pagar os impostos na sua cidade principal, para
demonstrar e lembrar que eles tinham recebido, por Condescendência, a
vida e sua parte de terra. Eis aí como Oranian tornou­se rei de Oyó e
soberano da nação ioruba, isto é, de toda terra.” Porém , Ifé reivindica a
preponderância sobre Oyó. É em Ifé que está guardado o sabre de
Oranian, chamado “sabre da justiça”, que os reis do Oyó devem segurar
nas Mãos durante as cerimônias de entronização, para garantir sua
futura autoridade. Vêem­se ainda em Ifé duas outras relíquias de
Oranian: um grande monólito, o Òpá Òrànmíyàn, seu bastão de comando
na guerra, e uma grande pedra em forma de laje, Asa Òrànmíyàn, seu escudo.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial