sexta-feira, 24 de junho de 2022

OGUNTÉ OGUNASOMÍ (outra qualidade de iemanjá)


Antes de lerem a lenda eu preciso explicar uma coisa:

Existem duas maneiras de cultuar Ogunté. A maneira mais comum é ela sendo uma qualidade de Yemoja, assim ela se chama Yemoja Sarawawa e responde pelo título de Ogunté.

A segunda maneira e ter ela como irmã mais nova de Yemoja, nisto ela se chama Ogunte Ogunasomí, Yemoja foi a primeira a nascer e Ogunté a quarta entre as sete irmãs filhas de Olokun.

Não se preocupem em apontar a versão correta ou a versão errada, as duas são válidas. Se na sua fé Ogunté é Yemoja ou se Ogunté é parente de Yemoja, não tem problema. As diferenças culturais não diminuem o brilho e a importância deste Orisa.

Eu particularmente creio nela como sendo irmã de Yemoja (pois o comportamento e a personalidade das duas são bem diferentes) e por isto a desenhei usando roupa cor de rosa, pois ela quando cultuada separada de Yemoja tem direito a cores diferentes das que a irmã usa (como vermelho, roxo, rosa e outras).

Existe lendas de Yemoja Ogunte sim, mas as que lerão abaixo é de Ogunte Ogunasomí, a irmã brava de Yemoja.
Outra coisa é que não se poder confundir é Ogunte com Iya Ogun/Togun, pois são qualidades/divindades diferentes.
Eu juntei 3 lendas de Ogunté em uma só, vamos a leitura:

"OGUNTÉ OGUNASOMÍ É UMA MULHER GUERREIRA!"

Olokun Seniade foi uma Rainha
Muito importante.
Ela teve sete filhas.
Entre estas filhas estavam
Yemoja, a primogênita
Ogunté, a quarta a nascer e
Aje Saluga, a caçula.
Todas as sete eram importantes.
Cada uma com sua personalidade.
Cada uma com seus dons.
Ogunté era a mais brava!
Enquanto Yemoja tem seios fartos
Para amamentar os filhos,
Ogunté tem os ombros largos para
Carregar o peso do escudo e da espada.
Enquanto Aje tem as mãos suaves
Para lidar com suas pedras preciosas
Ogunté tem os músculos fortes
Para aguentar a batalha.
Ogunte cresceu sendo protetora,
Ninguém ousava em uma
De suas irmãs tocar.
Mas o tempo passou,
E cada uma delas escolheu uma
Nova casa para chamar de lar.
Ogunte sozinha partiu fareijando aventura
E em muitas guerras ela se dispôs
A lutar,
Guerras estas que nem
Sempre eram suas mas a vontade
De batalhar a fazia lutar.
De norte a sul
De leste a oeste
Andava como uma beduína,
Era errante, sempre atrás de agito
Ela vivia somente para pelejar.
Um dia ela conheceu um homem,
Que entre todos os guerreiros não
Havia igual.
Ogun, o grande!
Ogun o ferreiro!
Ele que forjou as armas de todos os Orisa!
Ogunte Ogunasomi, uma moça
De sangue quente,
Ela não conseguiu evitar
E por ele se apaixonou,
E ele sem pestanejar em casamento
A pediu e ela aceitou sem hesitar.
Ogun o grande!
Ela estava deslumbrada,
Ele lutava com a ferocidade de um leão!
Ela pensou que seriam perceiros
Nas batalhas e ja imaginava
Como seria ao lado dele lutar.
Mas ele era machista
Disse a ela que agora sendo sua esposa
A espada ela nunca mais iria empunhar.
Ogunte casada, se tornou uma dona de casa,
Só o que fazia era limpar e cozinhar.
A principio ela tentou se convencer
Que assim era certo,
Mas seu sangue quente não demorou
Para gritar.
Ela queria aventura,
Mas Ogun dizia que ela tinha
Que se recolher ao seu lugar de esposa
Pois para ele uma mulher
A um homem não podia se igualar.
Ela o amou por pouco tempo,
Mas o amor deixou de existir e no
Lugar surgiu um desprezo,
Ele dela desdenhava
E ela dele começou a se enojar.
Um dia ela encontrou um homem
Muito belo e muito galante,
Obaluaye das terras de Tapá.
Ele disse que queria desposa-la
Mas para isso de Ogun ela tinha
Que se livrar.
Mas como? Como?
Como ela faria?
Se ela pedisse o divórcio Ogun
Com certeza não iria diria não.
Ela desistiu desse amor proibido
E passou a viver em desilusão.
Ogun percebeu que ela estava infeliz
Disse a ela que se quisesse poderia
Ter uma ocupação.
Ela gostou disso,
Pode em fim sair de casa,
As outras esposas de Ogun é
Que pilotariam o fogão.
Ogunté foi para o mercado,
Uma grande feira livre
E lá montou um barraca para ganhar
Seu próprio sustento.
Mas vender o que? O que tinha?
Ela pensou e pensou até
Que achou a solução.
Ela era de que familia?
Ela era irmã de Yemoja
Por isso os peixes também eram seus.
Na barraca ela vendia
Todo o tipo de iguaria,
Peixes dos rios e também do mar.
Não que precisasse trabalhar
Mas ela queria,
Pois na feira ela via gente todo dia,
E assim apaziguava o coração.
Um dia estava vendendo em
Sua barraca quando um cliente
Em especial lhe chamou a atenção.
"Obaluaye? O que fazes aquí?"
Ele a queria
E desta vez ela decidiu agir.
Ogunté armou uma grande farsa,
Ela montou um plano,
Disse a Obaluaye que iria fingir
Sua própria morte e que assim
Ogun pensando estar viúvo
Não a procuraria e ela poderia
Com Obaluaye fugir.
Ela dissimulou! Usou magia
E assim sua aparência esmoreceu.
Ogun perguntava "O que você tem? Porque so vives doente?"
E ela cheia de dramas fingindo
Ser uma moribunda
Se deitava e prostrada ficava no chão.
Ogun muito preocupado,
Pois há dias ela não comia
Pensou até em chamar um curandeiro
Para ver se havia alguma maneira
De ajudar.
Mas não houve tempo
Uma belo dia ele chegou em casa e
A triste noticia foram a ele anunciar.
"Ogunté morreu!"
Todas as outras esposas estavam a berrar.
Naquela época ainda não existia
O hábito de enterrar os mortos e
Os cadáveres eram enrolados
Em mantas e no meio
Da floresta aos pés da grande árvore
Iroko eram deixados para descansar.
Ogun a carregou, a levou para
A grande árvore e com todas as
Honrarias ele se despediu.
Mas assim que ele partiu
Ela saltou de dentro da manta,
A muito viva se pôs a correr
Para Obaluaye encontrar.
Ogun foi enganado,
Estava enlutado
E enquanto isto Ogunté estava a farriar.
Obaluaye a pediu em casamento,
Mas ela se negou,
Disse que seriam como namorados
Pois agora uma vida independente
Era o que ela queria.
Ela não queria homem dentro
De sua casa, ela não queria ser
Mandada,
"Antes só que mal acompanhada"
Ela somente queria ficar em paz.
Mas o problema e que ela havia
Tomado gosto pelo comércio,
E cometeu o erro de o mercado ir visitar.
Neste dia uma filha de Ogun estava
No mercado a comprar
mantimentos para casa
E viu Ogunté em sua antiga banca,
Ali vendendo os peixes.
A menina foi correndo pra onde
O pai estava e Ogun ao ver sua filha
Tão agitada deduziu que algo
Importante ela tinha para contar
"Eu vi Ogunté! Ela está viva! Está no mercado na banca de peixes! Meu pai o que ela fez foi te enganar!"
Ogun furioso!
Sabia que a menina não mentia,
Pois se ela dizia que Ogunté estava
Viva e porque devia sim estar.
Ele foi até o mercado e viu
Com os próprios olhos
A mulher por quem estava de luto,
E ela ali entre amigos a gargalhar.
Ogun irado, pensou até em
Guerrear contra ela,
Mas se lembrou quem ambos eram
Orisa.
Por isso somente o grande Deus
Poderia a traição de Ogunté julgar.
Ogun berrou na frente de todos,
E Ogunté não pode escapar!
Foi levada para além do céu,
Diante do próprio Olodumare
E o Deus maior ouviu os dois
Ogun se dizendo enganado
E ela que dizia que so quería se libertar.
Olodumare disse que o crime era
Grave mas o crime não era contra Ogun!
O crime era o desrespeito que ela
Teve com a morte,
E assim uma decisão tomou o
Grande Olorun.
Ele disse que a partir daquele instante
Os mortos deviam ser enterrados
Para que farsas como a dela não
Voltassem a se repetir.
Ogun ainda irado pedia que
Ela fosse castigada,
E Olorum entendeu que o pior
Castigo era por Ogunté em sua
Antiga posição.
Ele disse "ai está sua esposa, agora sabes que ela esta viva. Vão os dois para casa viver juntos como deve ser."
Ogunté ficou triste,
Agora estava de volta
Na rotina de lavar e cozinhar
E Ogun dela sempre desconfiava
Ele sempre dizia as outras esposas
"Fiquem de olho em Ogunté"
Sempre que saia para trabalhar.
Houve um homem muito belo
Que passava pela cidade,
Era Ayê um Orisa da terra
E ele por Ogunté se apaixonou.
Ela correspondeu
E marcou um encontro
Para consumarem o seu amor.
Ogun foi para a fazenda,
Alem de ferreiro ele também
Era agricultor.
Ogunte esperou o marido sair
E fugiu da vista das outras esposas,
Assim ela escapou e foi com
Ayê se encontrar.
O que ela não imaginava é que
Estava sendo seguida por
Um fiel servo do marido,
Era o cão Aja.
O cão seguiu Ogunte até a casa
De Ayê e em seguida correu
Para a fazenda de modo a Ogun avisar.
Ogun ao ouvir o cão ladrando
Soube de imediato que o problema
Era Ogunte.
O cão guiou Ogun para a casa de Ayê
E ele pegou Ogunte nos braços deste
Outro Orisa.
Ogun irado apenas apontou para
Ela e os cães avançaram,
Ogunte eles foram atacar.
Até hoje o Ewo (kizila) de Ogunte
É ver cachorro, ela não surporta
Pois faz dessa cena lembrar.
Os cães morderam Ogunte
Mas não o suficiente para machucar,
Então Ogun percebeu que não
Havia jeito, eles dois
Tinham que se separar.
Ele disse a ela para ir embora e
Ogunte juntou suas coisas,
Se despediu de todos
E feliz da vida pôs o pé na estrada
Marchou rumo ao mar.
"Vou-me embora! Pra casa de minha mãe Olokun eu vou voltar!"
Ela voltou a vida de guerreira,
morava na praia
Mas sempre que a chamavam
Para a guerra ela ia sem demorar.
Anos se passaram e um dia
O rei de Ejigbo chamado Osagyan
Soube que muitos de seus filhos
Haviam sido levados como escravos
Para além do mar.
Ele foi para a praia e jogou na água
Um tronco de árvore, sentou
Em cima e flutuando
Ele quis o mar atravesar.
Osagyan era um Orisa branco
E este tipo de divindade
Nao gosta de sal,
Por isto ele não poderia na água
Do mar nadar.
Foi lentamente boiando,
Calmamente deixando as
Correntes de água o tronco empurrar.
Logo ele viu que vinha subindo
Uma figura lá do fundo do oceano,
Ela vinha do fundo escuro e
Da superficie estava se aproximando.
Quando emergiu ele pode ver
A bela mulher que o fitava
Com olhar sério.
Era Ogunté, e ela queria saber
O que um Orisa estava fazendo
Ali no mar de sua mãe.
Ogunté é protetora,
Ela não hesitaria de proteger o mar
Que era agora a sua morada.
Osagyan explicou e ela logo entendeu.
Ficaram amigos, e mais que amigos
Eles se apaixonaram e
Ela engravidou.
Pelo tempo da gestação eles ficaram
Juntos, mas assim que o bebê nasceu
Osogyan teve de voltar para
O seu trono, para o seu povo.
Ele quis se casar com ela,
Fazer dela sua rainha.
Mas ela disse não.
Ogunté nunca mais quis se casar.
O menino filho dos dois
Foi chamado de Ogunjá.
Este andava ora com mãe
Ora com o pai
E assim se tornou tão guerreiro
Quanto eles eram.
Ogunté continuo em sua vida
De guerreira errante
E até hoje sempre está atrás de
Uma nova batalha.
Ogunté tão Brava quanto Oyá
Tão feiticeira quanto Osun,
Tão bela quanto Yemoja,
Tão forte quanto Ogun
De modo que Ogunté é independente
Ela sozinha se basta.
Ogunté é uma mulher brava!
Odo fi Ayaba!

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial