domingo, 7 de fevereiro de 2016

Ogun Avagan e suas origens


Vodun Gu, Assen e Representação

Ogun Avagan é uma divindade cultuada no Batuque do Rio Grande do Sul, em suas diversas vertentes (Ijexá, Jeje, Nagô, Oyó, Kabinda/Kanbina), que tem dentre suas funções proteger o templo e as pessoas ligadas a ele. É assentado em um espaço reservado, em frente ao templo, juntamente com Exu Olode (ou Bará Lodê) e ambos tem a função de proteger o local.

Ogun Avagan é tido pelos adeptos do Batuque do Rio Grande do Sul como uma divindade vinda dos “jejis”, o considerando um Vodun, e não estão errados em sua concepção, pois tanto Ogun Avagan quanto Oyá Timboá (Atinbowá) são divindades Voduns, associadas ao culto yorubá do Batuque do RS, sendo atreladas como qualidades de Orixás e sendo cultuados nos moldes dos mesmos.

Para enterdermos melhor Ogun Avagan, precisamos compreender como nasceu o culto de Vodun Gü e os ancestrais que foram divinizados e fazem parte de seu clã, pois até Avagan temos uma sequência:

– Ògún: divindade yorubá da guerra e dos metais;
– Gü: divindade fon com origem yorubá, uma adaptação do culto do orixá Ògún, carrega também os nomes Gü Huntonji, Ogü, Dagü e Ogün mesmo. É uma divindade popular (Toxwyo);
– Avagän ou Gü Avagän: divindade fon, ancestral divinizado, ligado ao culto do vodun Gü, ou um título do mesmo, cujo nome na língua ajagbé significa “senhor do metal” ou “ferreiro”, é uma divindade local.

Do Culto de Ògún, nasce Gü

O culto de Ogun foi levado ao Dànxómè por ferreiros yorubás no final do séc XVII. De acordo com Verger: “Para os Fon do Dahomey, Gü desempenha o mesmo papel que Ogum dos yorubás, mas, como Odùduà, é desconhecido em Abomey, Gü ai, é considerado o filho de Lisà e Mäwü, versão fon de Orìsàálá e Yemowo. Maximilien Quénum, o compara a Legba e assinala sua presença diante das forjas. Christian Merlo indica que “todos os templos” têm seu Gü, cuja virtude é fortificar o vodun. Em Xwèɖá na República do Benin, no Templo de Dan, se encontra um assen dedicado ao Vodun Gü, cuja função é proteger o templo. Chamam-no Sòhokwé, o guardião da casa”. O Assentamento da divindade “Xoroke” nos terreiros jeje-mahi do Brasil se refere a proteger os templos, e alguns o chamam de “Ogun Tolú”. O emblema principal de Gü é o Gubasá, uma adaga metálica adornada com desenhos, utilizada em diversos rituais, incluindo o culto de Fá. O Gubasá também é conhecido e utilizado no Vodu haitiano. O Gudaaglo, facão de tamanho menor, é um outro emblema, símbolo de proteção e defesa contra os inimigos. Na iconografia fon, é representado segurando estes dois sabres, o Gubasá na mão direita e o Gudaaglo na mão esquerda. Vários templos e casas no Benin, possuem seu assentamento de Gü.

Avagan


Na língua ajagbé “Ava – metal, ferro; Gän – senhor, no sentido de possuir” literalmente “o ferreiro”, pode se referir a um ancestral divinizado ligado ao culto de Gü, bem como ser um título do próprio, como pode se referir a diversos ferreiros do antigo Danxomè. Além de Avagan temos ancestrais divinizados, ligados ao culto de Gü, que é o Ako Vodun, o chefe do clã. Podemos citar por exemplo Gu Badagri, divindade muito conhecida no Haiti, sob o nome de “Ogou Badagris” que é um ancestral que foi divinizado e ligado ao culto de Gu.

Ifabimi Aladanu, escritor e pesquisador da cultura afro e também do culto vodun cita: “Avagan é o que diz seu nome: ferreiro, um de seus atributos. Com esse atributo ele é reverenciado de uma forma distinta daqueles outros, que é um só, mas de outra cidade ou que tenha um outro atributo. Ele é ferreiro então ele não vai a guerra mas ele faz a faca, então antes do sacrifício ele é reverenciado, como se fosse o Asi Anju dos iorubás. Frekwen tem a forja, Avagan é o ferreiro.”

Também considera-se que o título Avagan esteja ligado não somente a um ancestral específico, ou a Gu, mas há vários ferreiros reais do antigo Danxomè. Logo podemos concluir que antes de ser um nome específico a uma única divindade, Avagan é um título que se extende ao coletivo.

Podemos ainda encontrar autores que consideram que Avagan pode ser Avagá: uma divindade fon feminina, mas que poderia ter se associado ao culto de Ogun, no Brasil, fazendo assim surgir Ogun Avagan. Vejamos, como cita Bokonon Defódjí (Daniel Barreiro), sacerdote de Fá-Vodun, pesquisador e escritor, sobre esta divindade: “Vodoun feminino, acredita-se que o portador das bênçãos de Vodoun Dan, que dá a sabedoria de Mawu e proteção para seu novo Rei -HOUNON-GA que foi coroado, simbolizada pelas serpentes nos braços do Hounon-Ga, ela é a que se comunica com Vodoun dizendo-lhe que “um novo Rei há nascido” para a sua comunidade e reinará sobre a então até que um novo nascer … Avagá foi confundida com Orisa na América pelos irmãos, inclusive confundida como o Orisa Ogun…” (Tradução minha).

De fato vemos que muitas concepções circundam a divindade Avagan, e como chegou ao Brasil e foi associada a Ogun, pois de alguma maneira, desde África já havia um elo, uma ligação.

Ogun Avagan mantém muitos desses aspectos, e também uma semelhança com a divindade conhecida como Sohokwe ou Xoroke, por ser aquele que fica “na frente” e protege os templos. Também é o portador da faca, digamos, aquele que faz a faca, o ferreiro, o primeiro que recebe louvações.

Fontes : 1 , 2

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