terça-feira, 19 de abril de 2016

Ògún


Aquele cuja capacidade de criar problemas não tem uma pequena medida
Aquele que se move com seu exército de uma luta pra outra.
O Éjému na cidade de Olúwonrán
Aquele que amarra uma perna em um lugar de batalha
Ògún a riqueza tem suas recompensas

Sóò eşin
Aquele com muito filhos que vive em Ilè Ifé
O fato de que os ancestrais da nação Yorùbá podem ter sido gigantes, se considerarmos a força física, Ògún é um Ẹbọra (alguns voluntários dizer Ògún deve ser melhor classificado como Òrìșà).
Isto é evidente segundo um dos nomes de louvor:

Àwàlàwúlú Òrìșà tii Jebba ekolo mó bi.

O grande Òrìșà que come centenas de minhocas da terra cruas sem vomitar.

Aquele cujo poder é comparável a qualquer outra divindade.

Foi talvez por causa de sua força e energia que ele foi escolhido por Òlódùmarè para vir à Terra. Ògún foi quem abriu o caminho para as outras divindades. O Ògún fundamental que veio do Ợrùn com as divindades é conhecido como Ògún Eréjà.

Por causa de sua guerra itinerante, ficou mais conhecido como Ògún.

Ògún senhor da guerra.

Praticamente todas as famílias antigas das terras yorùbá cultuam um òrìşà. Nenhuma família existiu a princípio sem ter sua própria divindade e à qual eles obedeciam. Porém, no que se refere ao òrìşà que mais penetrou na vida das pessoas, eu diria que Ògún é provavelmente o mais venerado. A razão não é inverossímil, seus instrumentos sagrados estão em toda parte. Ninguém está acima de um julgamento e Ògún está sendo usado com frequência na agricultura, viagens e até mesmo alguns alimentos tem a mão de Ògún. Por isso não foi difícil para o povo abraçar Ògún independentemente de qualquer outro òrìşà que possa ter seus próprios devotos.

Em Ire, o lugar é apresentado como a casa de Ògún, quase todos os indígenas (pelo menos nas duas últimas décadas) tem o seu ícone de Ògún que é usado para uma função ou outra. No entanto, alguns versos de Ifá traçam a linhagem de Ògún desta maneira:

Ire kii se le Ògún o

Se bemu l’Ògún ya mu

Emu l’Ògún mu níre

Ni o wale mo

Ire não é a casa de Ògún

O vinho de palma foi o que fez Ògún parar de beber

Ògún parou de beber vinho de palma

Ele nunca retornou para sua casa

Como houve várias encarnações de Ògún, se foi este que parou em Ire, então foi o mesmo Ògún ou não, eu não me sinto capaz de dizer, porém, o que é definitivo é que um deles atravessou a famosa cidade e chegou a se estabelecer ali. Como no caso de Ợbàtálá e Ọrúnmìlà, o Ògún divinizado neste lugar pode ter sido um filho ou a encarnação do Ògún original.

Pausa: Há uma forte corrente dentro do Culto Tradicional Yorùbá de que nossos ancestrais divinizados tiveram várias encarnações nesse mundo, nos tempo imemoriais, ou seja, nos primórdios. (Odé Ợlaigbò)

No entanto, um olhar mais atento sobre Ondo, um Estado da Nigéria mostra que a veneração a Ògún está rapidamente se tornando uma atração turística que foi modernizada em uma espécie de carnaval e comemorado como um dia nacional dos indígenas de Ondo todos os anos. Não devemos esquecer que Ọlọfin Odùdúwà enviou Ògún e alguns caçadores para realocar seu filho problemático, Ohùn, nas colinas de Ìdànrè. Ìdànrè até agora está localizada na Nigéria no estado de Òndó (Teologia – Genealogia Yorùbá. Ayo Salami).

Mas vamos revisitar o Ògún original, que se tornou rei após a saída de Ọlọfin Odùdúwà para o Céu. Não nos deixe esquecer que ele era uma personalidade que não permaneceu em um determinado lugar por um longo tempo. Ele estava sempre em guerras, combates, em movimento e expedições realizadas em todos os cantos e recantos da Terra reunido as outras divindades. Talvez poderia ter sido possível que o comportamento de Ògún fosse o responsável por que alguns grupos decidiram estabelecer-se longe de Ile Ife.

Sendo um guerreiro e uma pessoa inquieta que não iria parar até obter justiça, era temido por muitas pessoas do mal. Mas para Ògún entre deixar ir e que ele ficasse longe sem a permissão do rei, ele preferiria ir e trazê-los de volta para que eles pudessem viver juntos na mesma cidade.

Em um verso de Ifá, este Ògún original viajou para travar guerras e capturar escravos em um lugar referido por Ifá como “Ojùgbòròmekùn Eséji” (apesar de ser um rei) ele esteve fora por muito tempo. Isso levou as pessoas de Ife a instalar no poder Ọránmíyàn (todos os reis que subiram ao trono depois de Odùdúwà tornam-se automaticamente Ọlọfin), um neto de Odùdúwà como herdeiro do trono aguardava a chegada de Ògún. Isto levou as pessoas de Ilè Ife a instalarem Ọránmíyàn (o rei que subia ao trono real depois de Odùdúwà automaticamente se tornava Ọlọfin) um neto de Odùdúwà como o herdeiro do trono pendente que aguardava o retorno de Ògún.

Quando ele finalmente retornou, Ògún não sabia que ele estava em Ifé novamente ele decidiu tomar mais escravos de sua própria cidade.

Assim que foi visto como um senhor da guerra pelos habitantes da cidade, a notícia chegou ao palácio do rei, que também era a casa do general do Exército de Ile Ife. Ọránmíyàn rapidamente saltou para atender e enfrentou o senhor da guerra. Eles entraram em uma briga. Uma vez que Ògún era um lutador genuíno, ele pensou que seria fácil vencer, não foi possível. Por mais de Ògún tentasse, ele não poderia ganhar. Ficou tão surpreso que solicitou uma pausa para fazer algumas perguntas.

“Será que há alguém nesse mundo que eu não posso ganhar em uma luta?

Em que você é diferente?

Quem é seu pai?

Preguntou Ògún.

Ògún é o rei desta cidade e não há uma guerra que possa nos capturar durante sua ausência.

Replicou Ọránmíyàn.

O que?

Esta é a cidade de Ilè Ife?

Perguntou Ògún, muito desconcertado.

Você é meu filho Ọránmíyàn?

Ògún muito confuso observou e perguntou.

É você Ògún?

Sim,

Ele respondeu, abatido e cansado.

Se não fosse por você, eu teria destruído a cidade que viemos fundar quando viemos do Ợrùn.

Depois de permanecer triste por um bom tempo, ele pegou seu instrumento de guerra chamado, Asá Ògún, se dirigiu para o interior da terra e ordenou que a Mãe Terra o engolisse e o levasse de volta ao Ợrùn. Este instrumento que ele levou para dentro da terra também se tornou em uma formação rochosa.

A lenda relata que no momento em que entrou na terra a cabeça de Ògún ficou acima da superfície e também se tornou uma formação rochosa. Estas duas formações estão em Idè, no santuário de Ògún (Òkè Ìmògún) ao lado do templo de Ifá em Òde Ìtase. O rei de Ilè Ifè vai todos os anos até lá e oferece sacrifícios ao Ògún de uma outra época.

No Odù Ogbè‘Ògúndá há outra história de como Ògún comoveu o mundo.

Neste verso, Ọrúnmìlà e Ògún se diz terem se envolvido em uma luta feroz durante a qual encantos foram empregadas por Ògún e por Ọrúnmìlà. A história finalmente termina com Ọrúnmìlà soprando Ìyèrósùn em Ògún que caiu do cavalo, entrou na Mãe Terra e se tornou uma rocha ou minério de ferro, Ota.

O verso no entanto acrescenta que devido à sua habilidade ele pisou na natureza e estes minerais permanecem nesses locais até hoje. Se este Ògún era uma encarnação e Ọrúnmìlà foi outra encarnação, como conta a história, este Odù está levemente distorcido (mesmo que a guerra tenha sido um fator comum e Ọránmíyàn era também um Babalawo que também pode ser considerado como Ọrúnmìlà era), nunca poderemos ter certeza.

Apesar do fato de Ògún ser altruísta, ele é severo, violento, porém, simples.

Não se pode tratá-lo com padrões duplos e sair sem um arranhão ou castigo sem olhar para traz.

Uma história que se conta pelo Instituto da Ética e Justiça (Teologia Yorùbá e Tradição, o Homem – Ayo Salami) é uma das muitas que mostram claramente até que ponto tudo isto é verdade. Por causa de sua violência natural, o material de sacrifício de Ògún sempre é colocado do lado de fora da casa.

Alguns líderes intelectuais da cultura Yorùbá também pensam que outra razão para colocar os sacrifícios de Ògún no exterior serve como um lembrete para qualquer um que pretenda se desviar de algum negócio, ele deve saber que quem tenta fazer isso em segredo será exposto para o mundo inteiro.

Ògún (Ògún Eréjà ou Ògún Ògún) foi iniciado no culto de Odù Ifá e sua iniciação teve o Odù Ògúndá Mèjì.

Mas apesar de ter sido iniciado, ele foi muito dado ao uso de encantamentos, como resultado evidente de muitos versos de Ifá especialmente sob o mesmo Ògúndá Mèjì, onde tornou um peixe em dois grandes peixes. No entanto, apesar de seu talento mágico, ele oferecia sacrifícios para Ifá a cada vez que se aventurava na floresta para caçar por prazer ou para a guerra.

Durante uma de suas longas viagens, ele tomou por mulher a esposa de Ọrúnmìlà (isto está baseado em um acordo entre ambos), Àdí.

Em última estancia ele se deitou com Àdí, enquanto sua esposa Epo estava em casa. O poema no entanto, diz que foram as mulheres que seduziram Ògún. No entanto Ọrúnmìlà exigiu Epo, a esposa de Ògún, em troca de Àdí.

É por este motivo que, Ògún (e seus encantos) ‘come’ Epo até hoje, enquanto quase que todas as outras divindades o tomam.

Outras matérias de alimentação de Ògún são grãos torrados, carne de cachorro, e galo. Ela também gosta de vinho de palma e outras bebidas alcoólicas (Gin, destilados em geral). Entre os tabus bem conhecidos associados com Ògún está o grilo “Ìrè”.

Ifá diz que houve uma aliança entre os filhos de Ògún e Ìrè. Acreditava-se que, se algum filho de Ògún comesse grilos e ele ou ela trabalhasse na forja, eles estariam cometendo erros estúpidos em seu trabalho.

Como Ifá, Ògún é dado aos encantamentos, que no seu caso é chamado Ìjálá. Ìjálá é altamente cômico, educacional, informativo e musical.

Ao contrário da prosa de adivinhação, não é padronizado e, portanto, pode ser feito à vontade por qualquer um inspirado espiritualmente.

As palavras podem ser mudadas, o ritmo alternado interposto ou modificada para se tornar adequado para o ambiente em que as músicas são executadas. O aspecto musical de Ìjálá, quando considerados em relação a Ifá, Şàngó e Ẹgbé mostra que a língua Yorùbá é muito musical.

Se os seus hábitos de bebida o retratam como uma pessoa rude, seus trajes não eram melhores, Ògún se vestia com folhas de palmeira na maioria das vezes. Alguns versos de Ifá dizem que ele costumava usar estas folhas para se camuflar a cada vez que ia à caça ou de guerra. Alguns relatos dizem que foi por causa de sua identificação com Ọrúnmìlà e sua iniciação no culto de Ifá.

Os nomes de louvor no entanto mostram que Ògún poderia ter sido alguém que também gostava de usar calções.

Onija oòle, o de kembeku rebi ijà, kembeku.

É um tipo de protetor que o protegia de ser ferido. Isso não podia ser usado sob um par de calças compridas.

Como revelado em Ògúndá’Òtúúrúpòn, essa é a história que leva o nome dado ao Odu Ògúndá Òtúúrúpòn ou Ògúndabaturupon, Ògún da Òbá tu ipon.

Ògún caiu em cima do Òbá que perdeu suas calças.

Ìpòn era o que as mulheres usavam em épocas antigas igual as calças velhas como hoje, Ògún se casou com Òbá, a qual, de acordo com as palavras de Ifá, era uma mulher poderosa. Eles disseram que ela era muito resistente (mais uma prova de que os ancestrais eram fisicamente extraordinários) e tornou-se um terror para todos os homens, apesar de sua beleza. No entanto, sua força física e mental chamou a atenção de Ògún e ele decidiu pedir a mão dela. Enquanto isso Òbá sempre lutava contra qualquer homem que se atrevesse a corteja-la. Todos os homens que tentaram lutar contra Òbá tinham sido derrotados.

Ògún foi a Ọrúnmìlà para perguntar o que poderia ser feito para conseguir o amor de Òbá. Ifá fez algumas prescrições e Ògún foi aconselhado a levar umas espigas de milho quando fosse cortejar Òbá. Todas essas espigas ele jogou no campo onde ele a encontrou e lutou com Òbá. De repente, Òbá tropeçou e caiu depois de pisar em uma das espigas. Ògún ganhou. Sem perder tempo:

Ògún caiu sobre Òbá e tirou as suas calças.

Ògún da Òbá tú Ìpòn e fizeram amor.





Relevância Moderna de Ògún



Por causa dos sacrifícios que ele ofereceu a Ifá, a posição de responsabilidade que lhe foi dada por Òlódùmarè, energizado por sua curiosidade, investigação e desenvolvimento de metais, especialmente o ferro, fizeram com que Ògún chegasse a ser a divindade responsável por todos os objetos de metal. Como todas as outras divindades, ele estaria conectado com a vida.



Ògún e a justiça



Mesmo que sua versatilidade espiritual, rotulagem e envolvimento Ògún é aquele que faz a estrada ser vista tanto do ponto de vista físico como literal. Nos dias atuais, quem quer ter o conhecimento de como lidar com qualquer novo projeto ou se aventurar, pode oferecer sacrifícios para que Ògún, lhe mostre o caminho a percorrer. No sentido literal, Ògún é a divindade que controla o ferro que é utilizado para fazer facões e equipamento para limpar o caminho. Além disto, Ògún é conhecido por proteger contra acidentes e os sacrifícios e devoção a ele sempre são úteis para evitar que a pessoa cometa erros em seus trabalhos. Ògún também é forte para, como se diz, ser capaz de dar vitalidade aos seus devotos.

Ògún não tolera pessoas que causam problemas para a sociedade. Ele é uma divindade cuja ajuda pode ser procurada para investigar, procurar pistas e fazer cumprir a justiça para as pessoas que não podem se defender pelos sentidos ordinários da investigação. Matar sem justificação, incêndio, roubo ou mesmo mentira são crimes graves que podem trazer turbulência para uma sociedade. O uso de Ògún para levar à justiça os desgarrados não requer perícia ou investigação prolongada. É uma questão de alguns sacrifícios codificados que podem ser oferecidos através do próprio Ògún ou de Ifá e é certo que se descobrirá o culpado ou ele morrerá de uma forma que vai deixar claro quem era a pessoa que cometeu o crime sob essa investigação. É seguro fazer isso, é preciso e não se desperdiça tempo, energia e dinheiro.

Diferentemente da diáspora, Ògún é o òrìşà da justiça e é também o òrìşà é invocado quando se faz um juramento. Os tribunais invocavam o nome de Ògún no momento dos depoimentos recolhidos.

Ao passarmos a língua sobre qualquer tipo de metal, estamos fazendo um pacto com esse òrìşà e nos colocamos de forma fragilizada perante ele em caso de mentira ou meias verdades.





Por Ayo Salami – Teologia e Tradição Yorùbá

Tradução: Odé Ợlaigbò

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