quinta-feira, 19 de maio de 2016

Ilé Àṣe Òṣòlúfón-Íwìn


Quando se pronuncia o nome de Iyami Oxorongá quem estiver sentado deve se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência pois esse é um temível Orixá, a quem se deve respeito.

Ìyàámi Òṣòròngà, energia ancestral feminina, cultuada por uma sociedade de mulheres. A sociedade de mães ou Ìyàámi, é o conselho de mulheres idosas da aldeia, que é composto por iniciadas de Òşún, Yemọjá e Oya, tendo Òşún normalmente como a líder. Os conselhos de anciãs adoram o espírito do ar, que é uma força masculina expansiva e que tem como seu mensageiro: o pássaro.

A sociedade Òṣòròngà congrega as Àjé – feiticeiras. Alguns itan de Ifá, ilustram que Ìyàámi tem o poder de se transformar em pássaros – Èhurù, Eluùlú, Àtíòro, Àgbìgbò e Òṣòròngà, este último refere-se ao próprio nome da Sociedade. Eles empoleiram-se em algumas árvores como o Iroko. Esse, por sinal, é um dos motivos para que as pessoas não fiquem debaixo da copa de Iroko durante a noite, pois acreditamos que ela se esconde em seus grandes galhos.

São detentoras de grande poder, consideradas as donas da barriga. Ninguém pode com seus Ebó, são propiciadoras da alteração do destino de uma pessoa. Seus poderes são tamanhos que só se consegue, no máximo, apaziguá-las, vence-las jamais. Quando se pronuncia o nome de Ìyàámi Òṣòròngà quem estiver sentado deve se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois esse é um temível Òrìşà, a quem se deve respeito completo.

Toda mulher é uma Àjé, Ìyàámi representa os poderes místicos da mulher no seu aspecto mais perigoso. São as mães em cólera, que sem a sua boa vontade, a vida na terra não teria continuidade.

Ìyàámi simboliza o princípio feminino, sendo responsável por todo o poder das mulheres, são as grandes mães ancestrais, que tudo criaram, transformaram e transmutaram desde o princípio da formação do Universo.

Sem o poder feminino, sem o princípio de criação, não brotam plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade não tem continuidade. Assim, a mulher é o princípio da criação e preservação do mundo. Sem a mulher não existe vida, e por esse motivo deve ser reverenciada e respeitada. A mulher está diretamente ligada ao divino, serve como passagem e receptáculo do sagrado no mundo dos vivos, por gerar vida. A mulher é vista como o útero fecundado, a cabaça que contém a vida, a responsável pela continuidade da espécie e pela sobrevivência da comunidade.

A mulher tem o poder da vida, pois todos são gerados no ventre feminino, todos nasceram de uma mulher, sendo fundamentalmente importante se curvar ante à poderosa mãe. Todas as mulheres e todas as Divindades femininas, principalmente Òsún, Yemọjá, Ợya e Nàná, possuem uma grande ligação com Ìyàámi.

O culto à Ìyàámi sempre existiu, no entanto, o respeito que existe em relação a essa Divindade fez e faz com que o seu culto seja restrito. Ìyàámi é tida como a perigosa feiticeira, por isso recebe o nome de Ajé (feiticeira). O medo e o respeito acerca dessa divindade são tão significativos que, o seu principal nome, Òṣòròngà, quase nunca é pronunciado.

O poder de Ìyàámi é intangível e desmedido, ela é sem dúvida, uma das Divindades mais poderosas e, essa é uma das razões para que as pessoas tenham tanto receio e medo em relação a elas. Ìyàámi é louvada por meio de cânticos específicos que enaltecem as suas características e por meio de oferendas que apaziguam a sua cólera, fazendo com que exista o equilíbrio necessário. Em momento algum podemos deixar de lado o perigo existente acerca de Ìyàámi, no entanto, não podemos deixar de recordar que Ìyàámi, é também, o princípio gerador feminino, a representação máxima da ancestralidade feminina.

Muito embora, grande parte do culto de Ìyàámi seja destinado às mulheres, existem os Oṣò, que são homens feiticeiros, mas infinitamente menos violentos e cruéis que as Àjé. Eles participam do culto, onde, em forma de submissão total as mulheres e ao seu poder, prestam reverência e homenagens à Ìyàámi.

Trazidas ao mundo pelo Odù Osá Méjì, as Ajé, juntamente com o Odù Òyèkú Méjì, formam o grande perigo da noite.

O objetivo da sociedade, que antes era exacerbar a maldade existente no poder feiticeiro de Ìyàámi, modificou-se e as danças, os cânticos e as oferendas feitas em sua homenagem, visam, a aplacar a sua cólera ao em vez de incentivá-la.”

No país Yorùbá, as atividades das feiticeiras – Àjé – estão ligadas às das divindades, Òrìşà, e aos mitos da criação. As Àjé são um dos pilares essenciais da sociedade, porém evita-se maldizê-las abertamente, pois se acredita que possuam uma força agressiva e perigosa.

Elas escolhem entre si, uma Ìyálóde (Erelú/Ògbóni), a mulher que dirige as mulheres em uma aldeia Yorùbá. A Ìyálóde coloca o pássaro dentro da cabaça, a cobre e a entrega a mulher que quer obter o poder de Àjé. Este pássaro é enviado em missão, cada vez que a Àjé quiser combater alguém.

Elas estão diretamente ligadas a Sociedade Ògbóni. Ògbóni foi fundada para estabelecer a ordem e a paz em território Yorùbá, com isso, o papel das Ìyàámi, é justamente fazer esse controle entre os seres humanos. Aquele que não estiver cumprindo o juramento feito, de lealdade, fraternidade, caráter reto; é com Ìyàámi que deverá prestar contas, ela faz esse controle e cobra os tributos.

Texto adaptado por: Fátima Gilvaz -Erelú Iyá Òsún Funké, Iyanifá Fun Mi Lolá .Pesquisa: Odé Oláigbo.


Àwọn Ìyámi Àjẹ́

Uma das mais importantes e perigosas Divindades do Candomblé, a grande mãe ancestral Ìyàmì. Essas grandes senhoras são, sem dúvidas, o maior símbolo do poder feminino da cultura yorùbá.

Antes de tudo, é importante recordarmos que o culto às Mães Ancestrais, chegou ao Brasil, ainda à época da escravidão, sobretudo por meio de Maria Júlia Figueiredo, do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, que possuía dois dos mais importantes títulos nas sociedades femininas yorùbá, o de Ìyálode (chefe entre as mulheres) e Erelu (supremo título feminino na sociedade Ogboni). É muito importante salientar o papel de Maria Júlia Figueiredo (Ìyá Omoniké), para a formação desse culto no Brasil, bem como os seus títulos honoríficos, trazidos da África, pois há quem erroneamente acredite que o conhecimento litúrgico acerca das Ìyàmì seja algo recente no Brasil.

Fato é que nas mais antigas e tradicionais comunidades de Candomblé da Bahia, o culto à Ìyàmì sempre existiu, no entanto, o respeito que existe em relação a essa Divindade fez e faz com que o seu culto seja restrito e não participado à maioria. A evocação dessa importante Divindade em rituais como o Ipade, bem como, os assentos mais que centenários existentes nos tradicionais terreiros, corroboram a constatação desse culto ter sido introduzido no Brasil, juntamente com o surgimento do Candomblé na Bahia.

Ìyàmì é tida como a perigosa feiticeira yorùbá, por isso recebe o nome de Ìyàmì Ajé (minha mãe a feiticeira). O medo e respeito acerca dessa divindade são tão significativos que, o seu principal nome (Osoronga), quase nunca é pronunciado nas Casas de Candomblé. Quando isso ocorre, a pessoa que está sentada se levanta, cruzando a barriga e a nuca em sinal de respeito e reverência. O mesmo ocorre na cerimônia do Ipade, quando as filhas da comunidade cruzam a barriga e nunca, sempre que pronunciado o nome, por completo, da grande mãe ancestral.

O primeiro nome Ìyàmì, que significa “Minha Mãe”, antecede os diversos “apelidos” que são utilizados para mencionar a grande mãe ancestral, tais como o mencionado “Ìyàmì Osoronga” (que não deve ser pronunciado em momentos indevidos), “Ìyàmì Eleye”, “Ìyàmì Ajé”, “Ìyàmì Agba” dentre muitos nomes.

O poder de Ìyàmì é intangível e desmedido, ela é sem dúvida alguma, uma das Divindades mais poderosas do Candomblé e, essa é uma das razões para que as pessoas tenham tanto receio e medo em relação a Ìyàmì. No Ipade, Ìyàmì é louvada por meio de cânticos específicos que enaltecem as suas características e por meio de oferendas que apaziguam a sua cólera, fazendo com que exista o equilíbrio necessário para a realização das festividades.

Em momento algum podemos deixar de lado o perigo existente acerca de Ìyàmì, no entanto, não podemos igualmente deixar de recordar que Ìyàmì, é também, o próprio princípio genitor feminino, a representação máxima da ancestralidade feminina. Muitos dizem, de forma indevida, que Ìyàmì é uma divindade do mal. A verdade é que Ìyàmì jamais pode ser deixada de lado, isso sim desperta a sua cólera e seus aspectos mais perigosos.

Ìyàmì é o maior símbolo da ancestralidade feminina e a maior representação feminina é o ventre, simbolizado na cultura yorùbá pela cabaça (igba) e pelo ovo (eyin adiye). Ìyàmì é a grande dona do ventre, razão pela qual, muitas mulheres com dificuldade de engravidar recorrem a ela, para conseguir realizar o sonho da maternidade. Ìyàmì tem grande poder sobre toda a parte genitora, uma das reverências que as mulheres realizam para Ìyàmì, é justamente tocar a árvore sagrada dessa Divindade com a barriga, em sinal de respeito e clamando por proteção e filhos.

Os terreiros de Candomblé que colocam em suas portas ou assentos de Ìyámì, um pequeno alguidar com ovos e azeite de dendê, estão apaziguando a grande mãe e pedindo para que as intrigas, confusões e discórdias não adentrem ao terreiro. Como já mencionado, o ovo representa o ventre e, por consequência Ìyàmì, o azeite de dendê, diferente do que muitos acreditam, por sua vez, tem o poder de apaziguar, de trazer a calma (eró).

Outro símbolo dessa poderosa Divindade é o pássaro, por isso, ela também é chamada de Ìyàmì Eleye (a mãe dona do pássaro, em especial, a coruja). Aqui em Salvador, é comum se ouvir das antigas egbon do Candomblé que, quando uma coruja (owiwi) canta, Ìyàmì está anunciando a sua chegada o que pode em muitos casos, ser um mau presságio. Quando isso acontece, elas imediatamente cruzam a barriga e a nuca.

Muitas histórias discorrem sobre a ligação das Ìyàmì com os pássaros, com as penas das aves (Mãe poderosamente emplumada). Em uma antiga foto constante no terreiro da casa branca, Ìyá Júlia (Ìyá Lode, Erelu) aparece com uma pena de um pássaro na cabeça, mostrando novamente a sua ligação com o culto dessa Divindade. Ainda hoje, é comum veremos antigas egbon do Candomblé, carregando entre os cabelos, uma pena de pássaro.

Algumas historias de Ifá, ilustram que Ìyàmì tem o poder de se transformar em pássaro, empoleirando-se em algumas árvores como Iroko e Ajanrere. Esse, por sinal, é um dos motivos para que as pessoas não fiquem debaixo da copa de Iroko durante a noite, pois acreditamos que ela se esconde em seus grandes galhos.

Muito embora, grande parte do culto de Ìyàmì é destinada às mulheres, existe a dança de Gèlèdè, realizada por homens. Nessas danças, os homens prestam homenagem à Ìyàmì, com máscaras que simbolizam a própria imagem da Grande Mãe Ancestral. A dança realizada por homens, mostra de forma contundente que a mulher tem o poder da vida, pois todos são gerados no ventre feminino, todos nasceram de uma mulher, sendo fundamentalmente importante se curvar ante à poderosa mãe. No Brasil, a dança de Gèlèdè não perdurou, talvez pelo fato da supremacia da mulher nos terreiros e, ainda talvez, pelo forte culto à Egúngún, os grandes ancestrais masculinos, que diferente do culto à ÌYámì, tem quase que sua totalidade de rituais, liderados por homens.

Todas as mulheres e todas as Divindades femininas – principalmente Òsun, Oba, Yewa, Oya, Nana e Yemoja, possuem uma grande ligação com Ìyàmì. Cada uma dessas Divindades possui uma justificativa que ilustra sua ligação com Ìyàmì, mas o fato de todas serem mães e poderosas em suas sociedades, reflete de forma abrangente esses laços.

No Asè Òsùmàrè, à época das festividades de Òsun, existe um ritual carregado de simbolismo, na qual as mulheres do Terreiro carregam as águas para a árvore consagrada à grande e poderosa mãe. As mulheres do Terreiro, principalmente as Agba, dançam e cantam em homenagem àquela que representa o maior poder da mulher na sociedade Nàgó. Nessa ocasião, a nossa Agba, Mãe Walquíria de Òsun, que possui no Terreiro de Òsùmàrè, o título de Ìyálode, carrega a máscara consagrada à Ìyàmì, evidenciando-nos de forma contumaz a manutenção desse importante culto no Brasil.

Embora seja um ritual interno, realizado diante somente dos filhos da casa, é uma cerimônia muito importante para todos, pois revitaliza a importância da mulher e do poder feminino, remetendo-nos à mais pura essência da nossa cultura ancestral. É fundamental, ainda, pois apazigua os poderes dessas grandes mães, transformando sua energia num poderoso agente de proteção, seja para casa, seja para os filhos do egbe.

Obviamente, esse culto é cercado de segredos que não podem ser revelados aos não iniciados e, em momento algum, podemos esquecer que estamos escrevendo num ambiente que é aberto a todos. No entanto, mesmo com o cuidado de não participar o Awo (mistério) desse culto, nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos ter contribuído para o esclarecimento sobre essa importante Divindade do Candomblé, Ìyàmì Agba.

Texto: Casa de Òsùmàrè – Bahia

Pesquisa: Fernando D’Osogiyan.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial