sábado, 14 de maio de 2016

Itan sobre Ìkóòdíde e Òsàlà.


Osalá, numa de suas caminhadas pelo mundo, iria passar pela aldeia de Osun, onde pretendia parar e descansar.
Esú, mensageiro dos orixás, correu para avisar Osun que o grande orixá fun-fun estava a caminho de sua cidade. Era preciso organizar uma grande recepção, pois a visita era muito importante para todos. Ela, então, apressou-se com os preparativos da festa, ordenando a limpeza de todas as casas e lugares públicos da aldeia, bem como que os enfeites utilizados fossem da cor branca. Osun cuidou pessoalmente da ornamentação e limpeza de seu palácio, pois tudo tinha que estar perfeito, à altura de Osalá. Com tantos afazeres importantes, em tão curto espaço de tempo, Osun não se lembrou de convidar as Iya-mi para a grande festa. As feiticeiras não perdoaram essa desfeita. Sentindo-se muito desprestigiadas, resolveram desmoralizar Osun perante os convidados. No dia da chegada de Osalá à cidade, Oxorongá entrou disfarçada no palácio para colocar, no assento do trono de Osun, um preparado mágico, que não fora notado por ninguém. Toda a cidade estava impecavelmente limpa e ornamentada. O palácio de Osun, que fora caprichosamente preparado, tinha seus móveis e utensílios cobertos por tecidos de uma alvura imaculada. Branca também seria a cor das roupas utilizadas na cerimônia. Osalá finalmente chegou, sendo respeitosamente reverenciado numa grande demonstração de fé e admiração ao grande mensageiro da paz. Osun, sentada em seu trono, esperava com impaciência a entrada de Osalá em seu palácio, quando iria oferecer-lhe seu próprio assento. Mas, ao tentar levantar-se, percebeu que estava presa em sua cadeira e, por mais força que fizesse, não conseguia soltar-se. O esforço que empreendeu foi tão grande, que, mesmo ferida, conseguiu ficar em pé, mas uma poça de sangue havia manchado suas roupas e também sua cadeira.
Quando Osalá viu aquele sangue vermelho no trono em que se sentaria, ficou tão contrariado, que saiu imediatamente do recinto, sentindo-se muito ofendido. Osum, envergonhada com o acontecido, não conseguia entender porque havia ficado presa em sua própria cadeira, uma vez que ela mesma tinha cuidado de todos os preparativos. Escondendo-se de todos, foi consultar o oráculo de Ifá para obter um conselho. O jogo, então, lhe revelou que Oxorongá havia colocado feitiço em seu assento, por não ter sido convidada. Esú, a pedido de Osun, foi em busca do grande pai, para relatar-lhe o ocorrido. Osalá retornou ao palácio, onde a grande mãe das águas estava sentada de cabeça baixa, muito constrangida. Quando ela o viu, começou a abanar seu abebé, transformando o sangue de suas roupas em penas vermelhas, que, ao voar, caíram sobre a cabeça de todos os que ali estavam, inclusive a de Osalá. Em reconhecimento ao esforço que ela empreendeu para homenageá-lo, ele aceitou aquela pena vermelha (ekodidé), prostrando-se à sua frente, em sinal de agradecimento.
A partir de então, essa pena foi introduzida nos rituais de feitura do Candomblé.

“Nunca hei de me separar dessa pena vermelha de ekodidé e que será o único sinal desta cor que carregarei sobre meu corpo.” Disse Osalá.

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