O que ética e moral têm a ver com culto a Òrìsà?
Òsàlá representa a idéia de pureza ética, conforme seu nome primordial o define - Obàtálá - Oba ti àlà, o rei cuja roupa é branca, ou Oba ti olá, o rei que possui honra. A palavra Àlà é entendida não apenas como um tecido da cor branca, mas sim como algo puro, sem mácula.
Quando se canta “Nwon ò ni’ta epo si àlà re o” está se querendo dizer, nenhum óleo de palmeira deve respingar em sua roupa branca, numa alusão à reputação de uma pessoa que deve ser sempre boa e imaculada. Òsàlá nos mostra sua preferência por tudo que é branco, sinônimo de pureza e retidão ética, e nos lembra da necessidade de nos depurarmos e purificarmos.
Os que sugerem que religião não tem necessariamente uma conexão com moralidade, e acham que tudo deve ser resolvido com Ebo ou outras obrigações, revelam falta de conhecimento, ou mesmo de interesse em saber discernir as coisas, em conhecer o culto a Òsàlá em toda a sua essência. A ética revelada através de seus exemplos, nas histórias e mitos, demonstra uma dignidade e caráter como modelo de comportamento a ser seguido.
Òsàlá é uma das raras divindades que as histórias revelam como possuidor de apenas uma mulher, chamada de Yemòwo (vários autores confundem Yemòwo com Nàná). Isto torna o fato bem interessante, em razão de ser tradição entre as famílias yorubás o senhor da casa - Onílé - ser possuidor de várias mulheres.
Conta-se que certa vez trouxeram a Òsàlá a notícia de que o mundo estava indo muito mal. Ninguém estava mais se entendendo, o trabalho não prosperava e havia infelicidade geral. Procurando saber o que estava acontecendo, Òsàlá descobriu que a causa de tudo era o falatório e as brigas das diversas mulheres dos homens. Então ele disse:
“A ò lé gbé aarin ògójì enìa k’éni ó má sì wí. Òrìsàálá ri on’igba aiya n’lèk’ó too f’owó mu Yemòwo nìkan; ò lè gbe aiye Olù’fè k’órùn k’aiya jékióná gún.”
“É totalmente impossível viver no meio de quarenta pessoas (mulheres) e não dizer coisas erradas. Òsàlá vê a possibilidade de casar com duzentas mulheres, mas ainda assim une-se apenas a Yemòwo; aquele que tem a responsabilidade cívica de Ifè não pode esperar ter êxito se tiver, ao mesmo tempo, que lidar com uma porção de mulheres.”
A moralidade é basicamente fruto da religião. O conceito de Deus para o homem tem tudo a ver com o que é feito para dar normas à moralidade. Deus não é apenas o criador de todas as coisas, como também o juiz de todos e o encaminhador para os diversos planos do Òrun. O trabalho e as pessoas de cada divindade, as ações humanas e ofensas rituais estão sob inspeção regular; de tempos em tempos, relatos são feitos a Ele. Para este fim, Èsù é designado para inspeção geral da conduta de todos. Èsù é a efetiva regra do universo, o princípio dinâmico e fiscal de Olódùmarè.
A ética está exemplificada no comportamento de Òsàlá e nos relatos dos Odù, de raro acesso aos praticantes dos cultos afro-brasileiros aqui do Sul do Brasil. Em todos eles, encontramos a lei moral, com suas regras e determinações de conduta, que podemos relacionar a fim de serem devidamente aplicadas.
Ìwà, o caráter, é o mais importante de todos os valores morais e o maior atributo do homem. A palavra é formada pelo verbo Wà, ser, haver, existir, e a vogal I. Ìwà Pèlè é uma pessoa de bom caráter que não entra em choque com nenhuma força humana ou sobrenatural, vivendo em completa harmonia com todas as forças que governam o mundo. Esse fato é o que pesa no julgamento divino e define o bem-estar na Terra e o seu lugar futuro no pós-vida. A expressão abaixo define o seu conceito com a religião:
“Ìwà lèsin.” O caráter é a religião.
Oore, a bondade, é considerada uma grande virtude, quando envolve generosidade e hospitalidade. Se rere, fazer o bem, é a tarefa das grandes realizações diárias.
Sùúru, a paciência, é entendida como o fator mais importante para se evitar precipitações que impliquem a perda de caráter. A paciência é o primeiro filho de Olódùmarè e o pai de Ìwà, o caráter.
Òwò, o respeito a que todos se devem entre si, sobretudo aos mais velhos pela sua antiguidade e à experiência admirável de vida.
Outras virtudes: Olóòtóo, uma pessoa verdadeira é virtude essencial numa comunidade; Olóòdodo, ser justo e honesto; e Sé ìféni, fazer a caridade.
A pessoa que segue os preceitos e caminhos dos Òrìsàs, vivencia seu culto, deveria, também, vivenciar esses valores éticos e morais em suas vidas cotidianas, para assim fortalecer em si e ser um agente possuidor e multiplicador do àse. Sempre que praticamos atos que atentam contra nosso caráter, maculamos nossa espiritualidade, nossa força vital, nosso àse pessoal e nossa orixalidade.
Bibliografia consultada: Livro "As Águas de Oxalá: Àwon Omi Òsàlá", de José Beniste.
Òsàlá é uma das raras divindades que as histórias revelam como possuidor de apenas uma mulher, chamada de Yemòwo (vários autores confundem Yemòwo com Nàná). Isto torna o fato bem interessante, em razão de ser tradição entre as famílias yorubás o senhor da casa - Onílé - ser possuidor de várias mulheres.
Conta-se que certa vez trouxeram a Òsàlá a notícia de que o mundo estava indo muito mal. Ninguém estava mais se entendendo, o trabalho não prosperava e havia infelicidade geral. Procurando saber o que estava acontecendo, Òsàlá descobriu que a causa de tudo era o falatório e as brigas das diversas mulheres dos homens. Então ele disse:
“A ò lé gbé aarin ògójì enìa k’éni ó má sì wí. Òrìsàálá ri on’igba aiya n’lèk’ó too f’owó mu Yemòwo nìkan; ò lè gbe aiye Olù’fè k’órùn k’aiya jékióná gún.”
“É totalmente impossível viver no meio de quarenta pessoas (mulheres) e não dizer coisas erradas. Òsàlá vê a possibilidade de casar com duzentas mulheres, mas ainda assim une-se apenas a Yemòwo; aquele que tem a responsabilidade cívica de Ifè não pode esperar ter êxito se tiver, ao mesmo tempo, que lidar com uma porção de mulheres.”
A moralidade é basicamente fruto da religião. O conceito de Deus para o homem tem tudo a ver com o que é feito para dar normas à moralidade. Deus não é apenas o criador de todas as coisas, como também o juiz de todos e o encaminhador para os diversos planos do Òrun. O trabalho e as pessoas de cada divindade, as ações humanas e ofensas rituais estão sob inspeção regular; de tempos em tempos, relatos são feitos a Ele. Para este fim, Èsù é designado para inspeção geral da conduta de todos. Èsù é a efetiva regra do universo, o princípio dinâmico e fiscal de Olódùmarè.
A ética está exemplificada no comportamento de Òsàlá e nos relatos dos Odù, de raro acesso aos praticantes dos cultos afro-brasileiros aqui do Sul do Brasil. Em todos eles, encontramos a lei moral, com suas regras e determinações de conduta, que podemos relacionar a fim de serem devidamente aplicadas.
Ìwà, o caráter, é o mais importante de todos os valores morais e o maior atributo do homem. A palavra é formada pelo verbo Wà, ser, haver, existir, e a vogal I. Ìwà Pèlè é uma pessoa de bom caráter que não entra em choque com nenhuma força humana ou sobrenatural, vivendo em completa harmonia com todas as forças que governam o mundo. Esse fato é o que pesa no julgamento divino e define o bem-estar na Terra e o seu lugar futuro no pós-vida. A expressão abaixo define o seu conceito com a religião:
“Ìwà lèsin.” O caráter é a religião.
Oore, a bondade, é considerada uma grande virtude, quando envolve generosidade e hospitalidade. Se rere, fazer o bem, é a tarefa das grandes realizações diárias.
Sùúru, a paciência, é entendida como o fator mais importante para se evitar precipitações que impliquem a perda de caráter. A paciência é o primeiro filho de Olódùmarè e o pai de Ìwà, o caráter.
Òwò, o respeito a que todos se devem entre si, sobretudo aos mais velhos pela sua antiguidade e à experiência admirável de vida.
Outras virtudes: Olóòtóo, uma pessoa verdadeira é virtude essencial numa comunidade; Olóòdodo, ser justo e honesto; e Sé ìféni, fazer a caridade.
A pessoa que segue os preceitos e caminhos dos Òrìsàs, vivencia seu culto, deveria, também, vivenciar esses valores éticos e morais em suas vidas cotidianas, para assim fortalecer em si e ser um agente possuidor e multiplicador do àse. Sempre que praticamos atos que atentam contra nosso caráter, maculamos nossa espiritualidade, nossa força vital, nosso àse pessoal e nossa orixalidade.
Bibliografia consultada: Livro "As Águas de Oxalá: Àwon Omi Òsàlá", de José Beniste.
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