Obaluaiê Chama Os Orixás Para Sua Festa: Olubajé
Dando continuidade ao culto do Olubajé no Candomblé, trago a última parte que finaliza o xirê (Obaluaiê chama os Orixás para sua festa), com canticos para Oxumarê, Nanã, Yemanjá e nosso glorioso pai Oxalá. É hora da família mítica de Obaluaê. Vem dançar Oxumarê, seu irmão, o arco-íris; depois Nanã, a sua mãe; em seguida Iemanjá, sua mãe adotiva e finalmente Iansã, “ aquela que acalmou seu sofrimento na infância.
Oxumarê, que se encontrava sentado placidamente, ao ouvir os primeiros acordes do seu “Orô”. Isto é, da cantiga que fala de sua história. Curvando-se em uma saudação, todos ouvem seu assobio alto e melodioso, anunciando sua satisfação.
A dança compassada deixa que todos possam admirar as roupas do Deus - Serpente .
Òsùmàrè Ele está sobre a casa.
Wàlé lé mo rí , Òsùmàrè Eu vi , ele é imenso.
Lé´ lé mo rí ó , ràbàtà Ele está sobre a casa, é Oxumaré
Lé´ lé mo rí Oxumarê está sobre a casa
Òsùmàrè Eu vi Oxumaré.
Um novo cântico, no mesmo ritmo , se ouve.....O texto fala do ´´àkoró ´´, isto é , do Senhor do àkorô – espécie de chapéu ou turbante que usam os poderosos em suas apresentações.
Aláàkòró lé èmi ô
Aláàkòró lé ìwo O Senhor do àkoró esta sobre mim.
Aláàkòró lé èmi ô O Senhor do àkoró sobre você.
Aláàkòró lé ìwo
Òsùmàré ó ta kéré O Deus do arco-íris movimenta-se
Ta kéré ó ta kéré rapidamente.
Òsùmàré ó ta kéré Para diante, adiante , adiante.
Ta kéré ó ta kéré
O Orixá dança por mais alguns minutos e, curvando-se em todas as direções , saúda os quatro cantos do mundo e a todos os presentes, retirando-se em seguida.
Os acordes dos atabaques, reverenciam “ a mais velha das iabás’ , a venerável Nanã.
Yaloshundé dirige-se até ela, que placidamente aguardava seu momento de saudar Obaluaê.
E o cântico começa.......
Òdí Nàná ni ewà
Léwà lèwá e A outra face( outro lado ) de Nanã é bonita
Òdí Nàná ni ewà A outra face de Nanã é bonita
Léwà lèwá e
Os versos da música sacra dizem que a “ Venerável Anciã “ tem a outra face bela , deixando supor que existe uma que deve ser respeitada, pois Nanã está intimamente ligada ao culto dos “egunguns “ , isto é , os espíritos dos ancestrais do povo-de-santo. A vinda do “ Ibirí “ – cetro daquela que é “ a mais velha das deusas” é providenciado.
Nàná ayò Nanã Olocó(aquela que tem poderes para chamar um parente morto)
Àwa ló bímon ayó alóko faça-nos felizes; nós poderemos tomar outra direção para termos a
Nàná ayò alegria do nascimento de filhos.
Àwa ló bímon ayó alóko Naná Olocó, faça-nos felizes.
Ò iyá wa òré
Ò ní aijalò Ela é nossa mãe e amiga;
Ò iyá wa òré Ela é a Senhora da alta sociedade.
Ò ní aijalòòde
Ao sons dos atabaques, majestosamente ela comprimenta a todos na sua despedida; os presentes respeitosamente a saúdam e reverenciam...........- Sálù bà Nàná..... Sálù bà Nàná ....
..... outra mãe está para chegar....
È a vez de Iemanjá , a quem se pede proteção, filhos saudáveis , parto tranquilo, beleza e prosperidade.
Suas vestes regiamente ricas em tons claros fazem dela uma das mais belas das Iabás.
Os cânticos falarão de seus atributos, os mesmos que seus adeptos em todos o Brasil desejam e suplicam á deusa das águas.
As quatro cantigas que se seguem falam disso:
Yemonja àwa Iemanjá protege-nos e nos enche de
Ààbò a yó satisfação.
Yemonja È Iemanjá , estamos protegidos ,
Àwa ààbò a yó e nossa satisfação é completa.
Ìyààgbà ó dé iré sé A velha mãe chegou fazendo-nos felizes, nos cumprimentamos Yemanjá.
A kíì e Yemonja A primeira que chamamos para abençoar nossa casa e dar satisfação.
A koko pè ilé gbè a ó yó Usar seu rio que escolhemos para nos banharmos,
Odò ó fi a sà pois o rio que escolhemos
Wè rè ó é o rio que usas para seu banho.
A sà wè lé ó Nós escolhemos nos banharmos
Odò fi ó em nossa casa.
A sà Wé lé ó Ela costuma escolher
A sà Wè lé ó banhar-se no seu rio.
Ìyá kòròba Mãe que enfeita os cabelos dividindo-os
Kòròba ní sàbá no meio da cabeça, ela tem o hábito de
Ìyá kòròba enfeitar os cabelos dividindo-os no meio
Kòròba ní sàbá da cabeça.
A dança de Iemanjá é solene e altiva. Ora parece um minueto, onde uma dama graciosa caminha, ora simula um mergulho em águas imaginárias e profundas.
Todos repetem suas saudações em tom alto de admiração:
= Odò Ìyá - ah!! A mãe dos rios !! = Èérú Ìyá - Mãe das espumas das águas !!
Ao cessar o toque dos atabaques ela despede-se de todos os presentes, curvando-se de maneira graciosa; e assim é ela mesma, sozinha que se dirige para o quarto – de – santo.
O silencio no barracão e interrompido, Oiá “ Senhora dos raios, das tempestades, mãe de todos os ancestrais-egunguns” está chegando.
Quando começam as cantigas de Oiá, um frenesi percorre o barracão e o ritmo rápido de suas músicas contagia a todos.
E assim começa seu grande bailado, numa coreografia com as mãos espalmadas para frente e para o alto evocando os ventos que antecedem as tempestades.
Oya balè e Láárí ó Oyá tocou a terra, ela é importante.
Oya balè Oiá tocou a terra
Oya balè e Láárí ó Yansã tocou a terra
Oya balè Ela é e alto valor, Oyá tocou a terra.
Àdá máà dé f´àrá Que sua espada não chegue até nós,
gè ngbélé e nem use seus raios para cortar a casa
Oya balè e Láárí ó onde vivemos.
Ó ní lábá-lábá - Ó lábá ó Ela ( Oiá ) é uma borboleta
Ó ní lábá-lábá - Ó lábá ó ela é uma borboleta.
Olúafééfé sorí Dona dos ventos que sopram sobre seus
Omon filhos.
Os textos da Deusa guerreira, falam que ela é a senhora dos ventos e alguns ate afirmam “ ela também é bela e delicada como uma borboleta” ....” quando quer “, ...respondem outros.
= Epa He yi Oyá !! – Salve Oiá !!...a assistência exclama em voz alta, e novamente o silencio se faz.
...celebrando a criação
Vestido de branco , segurando um longo cajado e indiferente a toda agitação do barracão está
Oxalufâ - “ o Senhor da Criação “ .
Amparado, é delicadamente erguido de sua cadeira; a passos curtos e lentos é conduzido até a orquestra, que aguarda pacientemente sua caminhada até que chegue mais próximo, para então executar o seu ritmo Igbi.
Ao seu lado, Oxaguiã , seu filho guerreiro, e como ele, também “ Pai da Criação “.
Amparado pelo guerreiro, o mais velho encurvado começa a dançar, e todos exultam....
= Epa babá !! - Respeitos ao pai !! /// = Epa babá !! - Respeitos ao pai !!
Èyin rí àwa Vós vedes a nós e a crença em nossos corações.
ìgbàgbó wa okòn Vós vedes a nós e a crença em nossos corações.
Èyin rí àwa , ìgbàgbó wa okòn Façais com que haja concórdia em nossa reunião
Ètùtù sé ipadé siré de xirê ( dançar e brincar para orixás )
Kò rú lé, kò rú lé, Que não causeis confusão na casa,
Bàbá Ifá Pai Ifá.
E sìn sé ipàde siré Vos cultuaremos em nossas reunião de xirê,
Kò rú lé, kò rú lé, não causeis confusão em nossa casa,
Bàbá Ifá Pai Ifá.
Sem cessar a dança e no mesmo ritmo, é saudado, agora, Ajalá , o grande oleiro, construtor das cabeças dos homens:
Àjàlá mo rí mo rí mo yo Ajalá fez o meu ori ( minha cabeça ),
Álá forí kòn me germinou e fez crescer,alá que segura
E àgó fi rí mi e mantém a minha cabeça.
Bée orí kò kíì Àjàlá Assim não há ori ( cabeça ) que não saúde Ajalá.
Bàbá òkè kí a mò rè O Pai que está no topo, nós o conhecemos e saudamos.
Kíì Àjàlá bée orí kò Ajalá , não há ori que não o faça.
Um último cântico é executado para saudar os orixás funfun – donos do branco, da “ pureza” como dizem outros, é em especial a homenagem a Oxaguiã, sempre louvado no alvorecer, nas preces feitas aos ancestrais.
Ojó mò tyìn odó aláyé ojó Chefe do dia que entende o dia
Ojó bí walé ojó e tem pilão.
Ojó mò tyìn odó aláyé ojó O que nasce em nossa casa ,
A bo wa Bàbá ó vamos cultuar o nosso pai.
Uma história ouvida há alguns anos, na Casa Branca do Engenho Velho – Ilê Ia – Nassô , relata.....
“ Oguiã, que gostava muito de guerra...voltava para sua cidade, quando viu que ela estava muito vazia..soube então que parte de seu povo fora levado e escravizado...Cheio de raiva vai á floresta e arranca uma imensa árvore e vem sobre o seu tronco até o Brasil...No meio do mar encontra uma linda mulher, Iemanjá-Ogunté, guerreira como ele...fazem um filho –Ogunjá... e os três chegam à Bahia para lutar juntos por sua gente....”
Neste dia - o da festa – apesar das homenagens feitas a todos no xirê, dois Orixás estão ausentes:
Xangô – o irmão rival do homenageado.
Ogum, de quem o povo-de-santo diz ter com ele “ uma disputa” muito antiga com referencia a faca.
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