terça-feira, 10 de maio de 2016

Ajere Ọya e Ṣàngó na disputa pelo inọ́n!


O ritual do Ajere tem como fundamento principal a disputa entre Yánsán e Ṣàngó pelo dom do uso do fogo.
Ajere é especificamente o nome da própria panela na qual se faz o ritual. Ela é repleta de buracos, por toda parte, por onde escapam línguas de fogo.

Ìtón (mito) resumido:

Ṣàngó sempre em busca de novas formas de poder bélico para controlar e dominar seus adversários, enviou um mensageiro a Èṣù solicitando que este lhe fizesse uma magia para que Ṣàngó passasse a ter domínio sobre o fogo (inọ́n). Èṣù aceitou a encomenda com duas condições, uma que ele deveria receber um cabrito como sacrifício e outra que a esposa de Ṣàngó, Ọya, deveria ser a portadora da magia.

Dias depois, já feito o sacrifício para Èṣù, Ọya foi até ele para buscar o poder produzido. Èṣù entregou a Ọya uma pequena cabaça enrolada em folhas sagradas, ewé ọ̀gbọ́, dizendo-lhe que tivesse cuidado no transporte da poção e que não a abrisse. Ọya, muito curiosa, abriu o pacote e viu que dentro da cabaça havia um líquido muito vermelho e dele tomou um pouco. Nada aconteceu e ela seguiu para o palácio do Aláàfin de Ọ̀yọ́. Ao chegar e entregar o pacote ao ọba, da boca de Ọya saíram faíscas de fogo e Ṣàngó então percebeu que ela havia experimentado um pouco da poção mágica. Ṣàngó ficou enfurecido e Ọya fugiu de sua ira.

Ṣàngó, por sua vez, retirou-se para uma montanha e lá tomou todo o líquido que havia na cabaça e este líquido o fez espirrar. O ọba viu sair de sua boca e de suas narinas imensas labaredas e percebeu que dali em diante seria o dono do poder sobre o fogo, o que o tronava mais poderoso do que nunca.

É nesta perspectiva que se dá o ritual do Ajere, numa representação da disputa do fogo entre esses dois Òrìṣà.


O ritual:

Uma panela de barro repleta de brasas é trazida na cabeça por Ọya que em meio ao toque do àlúja dança e a entrega a Ṣàngó que após dançar com ela, devolve a Ọya novamente sucessivamente. No fim, é Ṣàngó quem termina com a panela de fogo simbolizando que o poder do fogo é dele.

Ṣàngó sai novamente distribuindo entre fieis o Àmàlà, comida feita com quiabos, camarão, azeite de dendê, dentre outros ingredientes, ao som do seguinte cântico:



Yorubá: 

Àjàká máa bẹ̀ ká wòóo

Àjàká máa bẹ̀ ká wòóo

A e bàbá Àjàká máa bẹ̀ ká wòóo



Pronúncia:

Ajacá mabé cauô

Ajacá mabé cauô

Aê babá, Ajacá mabé cauô

Tradução:

Àjàká não implora nem mesmo ao poderoso Ṣàngó

Àjàká não implora nem mesmo ao poderoso Ṣàngó

Nosso pai Àjàká não implora nem mesmo ao poderoso Ṣàngó

Àṣẹ!


Texto: Bàbá Gill Sampaio Ominirò – Prof. Antropólogo
Última foto, Roger Cipó © Olhar de um Cipó –

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