domingo, 24 de março de 2013

Dos caminhos da tradição


Certo dia li um texto escrito pelo Leonardo Boff chamado “O caminho como arquétipo”. Como sempre, os textos do Boff me fazem refletir sobre a temática que ele aborda mesmo eu exercendo a espiritualidade sob a vivência do Candomblé e quase sempre relaciono uma coisa ou outra ao meu mundo religioso, especificamente. O trecho abaixo é exatamente o elo desta relação:
“No caminho de cada pessoa trabalham sempre milhões e milhões de experiências de caminhos passados e andados por infindáveis gerações. A tarefa de cada um é prolongar este caminho e fazer o seu caminho de tal forma que melhore e aprofunde o caminho recebido, endireite o torto e legue aos futuros caminhantes, um caminho enriquecido com sua pisada.” (O caminho como arquétipo, Leonardo Boff)
Eu poderia dizer que o caminho da nossa tradição religiosa é basicamente tudo isso contido neste trecho, e assim, continuar este caminho deveria ser uma obviedade, um acontecimento natural. Porém, a minha ingenuidade não é tanta ao ponto de reconhecer que isso acontece regularmente. Os tantos comentários que recebemos mostram que algué(ns) se perderam dos caminhos que os antecederam e vêm pondo os caminhos futuros dos descendentes a perder. E a religião também perde com isso.
Eu tenho algumas hipóteses sobre esses “desvios” e uma delas é o “auto-endeusamento” por parte de alguns zeladores. Explico: Candomblé é submissão, submissão ao orixá, é pelo orixá que oris de 1 ou de 100 anos encostam na terra como respeito e submissão. De certa forma, o respeito ao orixá iguala todo mundo da escala hierárquica, neste caso. A primeira e a última palavra vêm sempre do orixá. Mas alguns zeladores se dão tanta importância que passam a decidir por ele e descartam o caminho que veio antes dele, desconsideram a tradição em nome de uma assinatura “na minha casa é assim”, como se customizar o culto fosse algo saudável a religião como unidade.
A conseqüência disso a gente já sabe e já vê: filhos perdidos que olham para trás e veem tudo difuso, embaçado e sem certezas sobre os próprios caminhos. Não basta o preconceito que ainda sofremos e a intolerância, ainda temos esses graves problemas internos sem nenhuma perspectiva de realmente serem sanados.
Enquanto os caminhos não são respeitados, vemos filhos perdidos e amedrontados com concepções absurdas sobre os conceitos que pertencem ao Candomblé e zeladores com um rei na barriga deturpando à sua própria “marca” uma religião que tem caminhos longos trilhados em cima de muito sacrifício e tradição.
Logicamente há mais hipóteses e cada um de vocês pode enxergar alguma diferente da minha citada aqui. Restringi-me a esta somente, pois é a que mais me irrita de forma enfática (muito enfática) e tem me feito repensar o simples ato de visitar certas casas.
Axé.

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