domingo, 24 de março de 2013

Osogbo – O reino de Òsún



 
Arugbá Òsún
A festa anual das oferendas a Òsún, realizada em Osogbo na Nigéria é uma reatualizarão do pacto que o primeiro rei local contraiu com o rio do mesmo nome.
“Laro”, o antepassado do atual rei, depois de prolongadas atribulações procurando um lugar favorável onde pudesse instalar-se com seu povo chegaram ao rio Òsún, onde a água corria permanentemente.
Segundo se conta alguns dias mais tarde uma das filhas desapareceu nas águas quando se banhava no rio e, passado algum tempo, delas saiu, esplendidamente vestida. Declarou aos seus pais que fora admiravelmente recebida e tratada pela divindade que ali morava.
Laro foi fazer oferendas de agradecimento ao rio. Muitos peixes, mensageiros da divindade, em sinal de aceitação, vieram comer o que o rei jogou na água. Um peixe de grande tamanho veio nadar perto do lugar onde ele se encontrava e cuspiu água.
Laro recolheu essa água em um cabaça e bebeu-a, celebrando assim um pacto de aliança com o rio. “Em seguida estendeu as mãos e o grande peixe saltou nelas e assim assumiu o título de Ataojá, contração da frase yorùbá” A lewo gba eja (aquele que estende as mãos e pega o peixe).
A partir disso ele declara “Òsún gbo”, isto é, (Òsún encontra-se em estado de maturidade, suas águas sempre serão abundantes).
Daí originou-se o nome da cidade, Osogbo.
No dia da festa “Odùn Òsún” o “Ataojá” vai com grande pompa até o rio. Leva na cabeça uma coroa monumental feita de pequeninas contas. Usa um pesado traje de veludo e caminha com gravidade e calma, rodeado por suas esposas e dignitários.
Uma filha do “Ataojá” carrega nessa procissão anual, uma cabaça de Òsún. Ela tem o título de “Arugbá Òsún” (aquela que carrega a cabaça de Òsún) e só pode exercer essa função antes da puberdade.
Ela representa a menina que desapareceu outrora no rio. Sua pessoa é sagrada e o próprio “Ataojá” inclina-se diante dela.
O Ataojá vai sentar-se numa clareira e acolhe as pessoas que vieram assistir à cerimônia. Os reis e chefes das cidades vizinhas comparecem ou enviam seus representantes. A todo momento chegam delegações precedidas por orquestras. Troca de saudações, prosternações e danças, como marca de cortesia recíproca que se sucede em crescente animação.
No final da manhã, o Ataojá, acompanhado de sua corte e convidados aproxima-se do rio Òsún e manda jogar nele, através da Iya Òsún e do Aworo, oferendas de comidas: “agídí”(massa feita de milho), inhames cozidos,”iyanli”(espécie de sopa) etc.
Os peixes disputam as comidas sob o olhar atento das sacerdotisas de Òsún.
 A seguir o Ataojá vai ao recinto de um pequeno templo vizinho e senta-se em cima da pedra (Okutá Laro) onde seu antepassado Laro repousou outrora.
O Ataojá está rodeado pelos dignitários do culto de Òsún:
Iya Òsún, a mulher que se encontra à frente das sacerdotisas.
Aworo, o homem que se encontra à frente dos sacerdotes e seus substitutos.
Jagun Òsún, a mulher guerreira de Òsún.
Balogun Òsún, o guerreiro de Òsún.
Ololigan Òsún, o homem que se encontra à frente de todos aqueles que fazem oferendas a Òsún.
Ìyálòde Òsún, à mulher que se encontra à frente de todos os adoradores de Òsún, com exceção dos “Ìwòrò”.
Iyangba Òsún, a mulher que, a cada quatro dias, vai procurar água pra lavar os seixos de Òsún.
Àkùn Yungba Òsún, chefe dos cantores do culto a Òsún.
Prosseguindo ao cerimonial da festa a “Iya Òsún e o Aworo” realizam a adivinhação para saber se a divindade ficou contente com as oferendas que acabam de fazer-lhe e se tem alguma vontade a exprimir.
A seguir as pessoas cantam em torno do Ataojá, sentado na OKUTA LARO.
Seguem-se então cantigas em louvor a Òsún seguido de cânticos em comemoração a ação de  Òsànyìn cujas palavras evocam as virtudes simbólicas de certas folhas.
Ìrókò, que produz calma.
Ògègè a árvore na qual se sobe pra ficar protegido.
Òdúndún, sempre fresca.
A parte religiosa pública chegou ao fim. O Ataojá, seguido pela multidão volta à clareira onde recebe seus convidados e os trata com uma generosidade digna da reputação de Òsún.
Fora desta data anual são feitas oferendas a Òsún a cada quatro dias (semana yorùbá).
A festa anual (Odùn Òsún) retorna portando a cada noventa e duas semanas yorùbá, perdendo um dia em cada ano solar normal e dois dias a cada ano solar bissexto.
O Ataojá, referindo-se a deusa Òsún diz:
“O povo de Osogbo e o Ataojá tem um pacto com o rio Òsún”.
Eles acreditam que o espírito de Òsún mora no rio Òsún e tem ali seu palácio, em lugar próximo de Osogbo. Pensam também que todos os lugares profundos do rio Òsún, a partir de “Ìgèdè” onde ele nasce até a laguna de “Leke” onde ele despeja suas águas, são habitados pelos espíritos de todos os seguidores, servidores e amigos quando ela vivia.
Esses lugares profundos recebem a denominação de “Ibú”.
Finalizando diz: Todos os rios tributários que deságuam no rio Òsún são os dedos da deusa e todos os peixes que nele existem, bem como em seus afluentes são os mensageiros de Òsún.
Os tesouros de Òsún são guardados no palácio do “Ataojá” templo este que fica situado nas proximidades do rio Òsún.
Texto: Notas sobre o culto aos Orixás e Vodoo
Pierre Fatunmbi Verger
Em homenagem a Obinrìn Òsún Eclair, que águas de Òsún possam diariamente lhe limpar de dentro para fora, Odùn de.

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