domingo, 24 de março de 2013

Eu escolhi ficar.



Podem muitas pessoas discordar, mas viver Candomblé não é igual a viver outras religiões. Eu não tenho muito respaldo pra falar sobre viver outras religiões porque somente me dediquei ao Candomblé quando o orixá me disse “venha”. E aí eu já noto a diferença básica: o nascer para. Candomblé não é uma religião de multidão, não é uma religião disposta a atrair fiéis na esquina, pois é vivida no seu ambiente muito particular, no seu mundo muito diferente desse mundo aqui de fora. Uma roça é praticamente um mundo paralelo, pois lá dentro o tempo é diferente, as sensações são diferentes, as personalidades são diferentes, os laços, assim como os conflitos, também. Aprendemos lá dentro como nos portar aqui fora.
Muitas coisas não têm explicação, muitos acontecimentos fogem das nossas rédeas, o orixá se faz presente de uma maneira que surpreende os desacostumados, apontam caminhos, criam laços, dão conselhos, nos freiam, nos dão a sacudida necessária, limpam as mágoas e abrem os nossos olhos para vermos além. E tudo isso vai acontecendo de uma maneira que quando vamos ver, já estamos envolvidas e cobertas de amor e fé (e eu penso que amor sozinho ainda é amor, fé sozinha ainda é fé, mas fé e amor é orixá).
Lembro-me de forma super clara os primeiros sinais que os orixás me deram, e me lembro também o quanto eu fiquei assustada e o quanto eu tentei correr desses sinais por ignorância, imaturidade, por ver o orixá fora e ainda não senti-lo cá dentro. Como toda adolescente, tive dúvidas, fiquei confusa e tentei buscar respostas em outros meios religiosos: fui para centro kardecista e recebi uma carta psicografada sobre os caminhos que eu tinha com “a religião da minha família” (o Candomblé); fui para igreja católica e recebi um “seu lugar não é aqui, minha filha” de uma senhora que eu recepcionei na porta da igreja. Depois destes sinais captei as mensagens e me abri para os orixás. De lá para cá muitas águas passaram por este rio e a mão que eu dei pra segurar a mão que orixá me estendeu é a que me segura até hoje e com a outra ele vai tecendo meus caminhos, criando os laços, fazendo meu coração estalar a cada abraço que ele diz “esse vale a pena”.
O que me faz permanecer não foi o que me fez entrar, pois existe “algo” que eu tento por em palavras para escrever aqui e nunca consigo. Eu sempre chamo de “terceiro olho”. Como se um “terceiro olho” aparecesse e fosse se abrindo aos poucos, respeitando o tempo e a maturidade que tenho. Cada visão, cada percepção chega quando é visto o meu preparo para tal. Conseguir enxergar paulatinamente pode parecer lento demais para alguns, mas para mim tem sido crucial. Cada imagem nova tem-me dado mais firmeza, cada imagem nova expande meu raio de certeza. E a sensação de sentir o meu Orixá feliz nada paga, ninguém consegue diminuir.
Sempre há um motivo forte para se entrar para a religião e um motivo mais forte ainda para permanecer nela. Ninguém fica de verdade por causa de axó, por causa de vaidade, por brincadeira, por laço afetivo ou somente por obrigação. Fica quem é disposto a soltar as rédeas, fica quem é disposto a por o ego abaixo do orixá, fica quem se permite sentir o orixá de verdade. E isso? É aprendido com o tempo, com humildade e com todos estes aprendizados que tanto são mostrados numa roça e falados um pouco aqui no blog. Fica quem é chamado.

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