quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Por que Èsù (Bará) vive do lado de fora



A organização do mundo estava sendo feita, pouco a pouco, na medida em que os problemas vinham surgindo. Sempre que Òrúnmìlà comparecia à Terra para ver o andamento das coisas, ele era assediado pelos Òrìsà, pelos seres humanos e até pelos animais, com indagações diversas. Ainda não havia sido determinado qual o lugar em que cada criatura deveria viver e o que cada uma deveria fazer dentro do sistema. Era Èsù quem ponderava sobre os problemas e questões apresentadas. E, assim, sugeriu a Òrúnmìlà que, para cada um, apresentasse uma proposta simples e que cada um, ao responder, determinasse o seu destino e o seu modo de viver.
   


 

 Òrúnmìlà aceitou a sugestão de Èsù e saiu à procura das pessoas e dos animais. O primeiro que encontrou foi a galinha d'angola, e lhe perguntou: "Você concordaria em usar uma corda em volta do pescoço?" A galinha d'angola respondeu: "Não, eu não concordo." "Muito bem, você não usará uma corda no pescoço", disse Òrúnmìlà. Muitas outras criaturas foram questionadas com a mesma pergunta, e a resposta foi sempre a mesma. Com isso, perderam a oportunidade de se tornarem unidas.




Mas quando Òrúnmìlà fez a pergunta à cabra, ela respondeu desrespeitosamente: "Você pensa que pode me obrigar a fazer isto?" Imediatamente a cabra passou a ter uma corda envolta em seu pescoço, assim como seus parentes, a ovelha e o carneiro, passaram a sofrer a mesma humilhação.


 

 Quando se perguntou ao cavalo se ele concordaria em carregar uma carga, ele também replicou de forma grosseira: "Quem pode forçar-me a fazer isto?" Imediatamente surgiram um homem sobre as costas do cavalo e freios em seus dentes. De acordo com as respostas que as criaturas davam, elas recebiam uma maneira de viver.




Enquanto tudo estava acontecendo, Èsù ia à frente, mais preocupado em tentar confundir Òrúnmìlà, provocando dúvidas e confusão entre as criaturas. Isso estava sendo observado por Òrúnmìlà, que aguardava uma ocasião para dar uma lição a ele.


E foi assim que Òrúnmìlà encontrou o homem e foi-lhe dizendo: "Homem, você escolhe a vida do lado de dentro ou do lado de fora da casa?" O homem respondeu que preferia do lado de dentro, e por isso foi decretado que o homem viveria em casa. Inesperadamente, porém, Òrúnmìlà perguntou a Èsù: "E você, Èsù, do lado de dentro ou do lado de fora?" Èsù que estava mais preocupado em criar problemas para os outros, ficou assustado com a pergunta inesperada e replicou imediatamente: "Do lado de fora"; quando percebeu o erro, tentou corrigir: "Não, é o contrário, do lado de dentro."


Percebendo o embaraço de Èsù pela forma como havia sido feita a pergunta, Òrúnmìlà disse: "Foi você mesmo que propôs uma resposta direta, conforme combinou comigo; portanto, devo aceitar as primeiras palavras que saíram de sua boca. Daqui em diante, você viverá sempre do lado de fora."




NOTAS:

  • Èsù é relacionado à categoria Òrìsà Òde, ou seja, das divindades que são assentadas do lado de fora.
  • Nas regiões yorubás, Èsù é assentado na entrada das cidades. As pessoas que chegam pedem licença e deixam uma importância em dinheiro. Há também o costume de se assentar Èsù na entrada das residências. 
  • Èsù é uma divindade única que possui vários cognomes de acordo com os atributos referentes às suas atividades como Ójíse (o mensageiro), Elébo (transportador de ebo), Olóna(n) (o dono dos caminhos), Akésan (o que supervisiona as atividades dos mercados do rei), Òdàrà (identificado com as coisas do bem), Elégbára (o conhecedor do poder), Yangí, um nome que o define como o maior de todos de acordo com a expressão "Oba Bàbá Èsù" (rei e pai de todos os Èsù).
  • sù Òtá Òrìsà"  (Èsù, o inimigo dos Òrìsà): essa expressão faz alusão ao seu papel de fiscalizador de todas as obras feitas, inclusive as dos Òrìsà, de forma incorruptível. "Olópa Olódùmarè láilái" (o fiscal de Olódùmarè desde os tempos imemoriais).
(Texto e notas extraídos do livro "Mitos Yorubás: O outro lado do conhecimento" de José Beniste, com adaptações)

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